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Foto do escritorÁbine Fernando Silva

A Caçada ao Outubro Vermelho (1990)

Direção: John McTiernan

Roteiro: Larry Ferguson/Donald Stewart

Elenco principal: Sean Connery (Capitão Mark Ramius), Alec Baldwin (Jack Ryan), Sam Neill (Capitão Vasily Borodin), Scott Glenn (Comandante Bart Mancuso), James Earl Jones (Vice Almirante Jim Greer), Stellan Skarsgård (Capitão Viktor Tupolev).

Sean Connery (Capitão Mark Ramius) em "A Caçada ao Outubro Vermelho" de John Mctiernan

Thriller político promissor e construído cautelosamente para estimular dúvida, tensão e algumas expectativas no público “A Caçada ao Outubro Vermelho” flerta muito mais com o elemento conspiratório do que com a ação em si, marca registrada dos trabalhos do diretor John McTiernan que já tinha um currículo de respeito com “O Predador" de 1987 e “Duro de Matar" de 1988. A premissa do enredo (primeira adaptação para o cinema do livro de Tom Clancy que inaugurou o universo das peripécias do agente da CIA Jack Ryan) claramente pretensiosa, bebe, especialmente, do velho e batido maniqueísmo, propondo uma trama que decide se enveredar pelos caminhos espinhosos da ideologia unilateral, enaltecendo a pátria americana como a utopia das liberdades individuais e da democracia, espécie de “sonho de consumo de todo cidadão do mundo” em pleno contexto minguante da Guerra Fria em 1984. O roteiro é dinâmico, preocupado em explorar detalhes técnicos e científicos acerca da estrutura física, funcional e militar dos submarinos, da mesma forma que concatena uma série de eventos investigativos e especulativos protagonizados pelo personagem Jack Ryan (Alec Baldwin) que prendem a atenção e informam, gerando apreensão e adensando a experiência do expectador, tornando de certa forma o fio condutor narrativo um pouco complexo, o que pode gerar certa confusão e incompreensão no acompanhamento dos raciocínios e na junção dos sub-arcos que se coadunam (investigação do agente Ryan/a deserção do capitão Markus Ramius e seus oficiais/a perseguição do submarino USS Dallas ao Outubro Vermelho). A motivação pessoal dos protagonistas não recebe atenção devida, já que o roteiro se detêm muito mais em elementos investigativos e na construção de mistério em torno das reais intenções do capitão russo Ramius (Sean Connery) e sua debandada com destino à costa estadunidense. Aliás, o filme não justifica de maneira plausível a decisão em desertar do capitão e seus oficiais, conferindo certa artificialidade dramática aos eventos, o que é uma pena, pois a presença em tela de Sean Connery é forte, convincente e a determinação demonstrada pelo personagem mereceria um aprofundamento psicológico e razões sociais e políticas que legitimassem com mais verdade sua arriscada decisão. Alec Baldwin encarna bem o espírito diplomático e o arquétipo do herói queridinho, mas perspicaz e oportunista nos momentos de intervir com suas observações pertinentes, inteligentes e com seus planos mirabolantes que acabam sempre respaldados por seus superiores. Jack Ryan como a representação do agente genial, cheio de subterfúgios e habilidades inexplicáveis é o soldado perfeito cuja vida gira em torno do trabalho e da extraordinária missão de impedir um conflito militar (naval e aéreo) entre Estados Unidos e União Soviética, haja vista que sua arguta percepção e análise o levam tacitamente a sustentar a tese, até então não muito convincente, de que Ramius não tinha intenções de atacar os americanos, mas sim de pedir asilo na “pátria dos sonhos”.

Capitão Ramius (Sean Connery) e Jack Ryan (Alec Baldwin) como improváveis aliados no filme de Mctiernan

As manobras e artimanhas de Ryan vão se sucedendo e como não poderia deixar de ser, sua tese acerca dos fatos acaba se confirmando, o que a meu ver, esfria e esmorece um pouco o interesse na trama (um dos pontos fortes do filme é a construção crescente da tensão, fruto da dúvida a respeito das pretensões do personagem de Connery). Por outro lado, o capitão russo elabora uma estratégia quase suicida e arrisca um tudo ou nada levando consigo o Outubro Vermelho, submarino de última geração, equipado com um mecanismo denominado “lagarta” que o torna indetectável ao sonar de outros submarinos. Ao enganar a marinha soviética, desviar de sua rota de manobras e levar consigo uma arma de guerra poderosa e letal (a embarcação possuía algumas ogivas nucleares a bordo), com uma tripulação que ignorava as intenções reais de seu comando (exceção feita aos oficiais), Ramius soa mais como um lunático inconsequente do que um herói cheio de boas intenções. Ora, uma vez sabido os planos do veterano dos mares pelo governo soviético, a caçada ao Outubro Vermelho torna-se uma questão de honra e de preservação de sua tecnologia (com a ameaça de ser roubada pelos Estados Unidos) o que inevitavelmente põe em risco injustamente a vida de todos aqueles marinheiros que não sabiam o que se passava. No entanto, a concepção ideológica da trama, identificada aos estadunidenses, transforma a frota soviética no encalço do desertor a grande vilã, sublinhando a bravura destemida de Ryan que se arrisca o tempo todo para finalmente comprovar suas certezas e travar relações com o respeitável Ramius. A direção de John McTiernan aposta no suspense (com enquadramentos sutis e gradativos), na suntuosidade cenográfica (com planos abertos ostensivos que focam nos submarinos), num trabalho primoroso da produção em incorporar dados e informações acerca de tecnologia naval e no desenvolvimento cerebral dos fatos, deixando um pouco de lado a “ação” propriamente dita, reservada mais ao último ato e focada em efeitos visuais do combate com torpedos entre os submarinos e no embate final entre Jack Ryan e o cozinheiro espião. A mixagem de som também merece destaque, principalmente em cenas de ambientes internos (no caso, o interior do Outubro Vermelho ou mesmo do USS Dallas), cuja clareza e limpidez favorecem a ambientação tensa e suspeitosa. Guardada as devidas proporções e suas respectivas intenções estilísticas “A Caçada ao Outubro Vermelho” lembra outro filme magnífico sobre marinheiros e submarinos produzido há alguns anos antes na Alemanha: “O Barco, Inferno no Mar”, 1981 de Wolfgang Petersen, porém, peca por sua dramaturgia genérica e tendenciosa, merecedora de uma abordagem realista menos enviesada. No entanto, isso já seria querer demais em se tratando de uma disputa por corações e mentes travadas também no campo artístico-cultural.


Por: Ábine Fernando Silva

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