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  • Foto do escritorÁbine Fernando Silva

A Fúria do Dragão (1972)

Direção: Lo Wei

Roteiro: Lo Wei

Elenco principal: Bruce Lee, Nora Miao, Tien Feng, Chikara Hashimoto, Ao Wei Ping.

Chen Zhen (Bruce Lee) em "A Fúria do Dragão" de Lo Wei

Segundo longa protagonizado pelo jovem de ascendência chinesa que se tornaria o primeiro e maior ícone das artes marciais da História do Cinema, “A Fúria do Dragão” de 1972 figura como um dos melhores trabalhos da curta mas expressiva carreira de Bruce Lee, um artista intenso, filósofo e mestre de Kung Fu, um mito que fascinou o Ocidente com sua coreografia enérgica nas telas e excepcional vibração combativa. Após a morte de seu mestre, Chen Zhen (Bruce Lee) retorna a Xangai disposto a descobrir a verdade sobre este repentino e terrível acontecimento, cujas evidencias, apontam o envolvimento direto do dojo japonês comandado por Hiroshi Suzuki (Chikara Hashimoto). O território de Xangai esta sob forte influência política do Império japonês que subjugou toda a população chinesa da região, convertendo-os em cidadãos de segunda categoria, impingindo-lhes coações e humilhações públicas. Os discípulos da Ching Wu tentam seguir sua filosofia zen de não violência, aperfeiçoamento físico e espiritual, no entanto, são constantemente alvos das perseguições e arbitrariedades da academia de bushidos. Tomado pela fúria, Zhen empreende uma jornada de vingança e destruição contra os desafetos nipônicos, colocando em risco o próprio legado de seu mestre. O roteiro do filme construído pelo também diretor Lo Wei explora a rivalidade pujante entre chineses e japoneses sublinhando o aspecto hiperbólico do despotismo e da arrogância dos vilões nipônicos, constituídos por tipos soberbos e tirânicos, aspecto que se estende para a representação dramática histriônica, para a maquiagem caricata e o figurino singular. Por outro lado, os discípulos de Huo Yuanjia (fundador da Ching Wu) são retratados a partir de certa conformação ética, disciplinada, construída por intermédio de um consenso coletivo que preconiza o cultivo do Kung Fu como uma arte do corpo e da mente, algo transcendental que rejeita a violência pela violência. Praticamente toda trama do filme gira em torno de um desejo incontrolável de vingança do protagonista, relutante em aceitar a complacência cerimoniosa, ordeira e pacifista de seus companheiros, imbuído de um ímpeto destrutivo meio inconsequente, pretexto que serve aos interesses da ação, dos combates e da exploração cada vez mais volumosa das habilidades marciais e dos efeitos cênicos fascinantes do balé corporal hipnótico levado a cabo por Lee. O longa de Lo Wei não perde tempo com complexidades dramáticas, desenvolvimentos psicológicos e mesmo a abordagem etnocêntrica dos japoneses, bastante taxativa e sem maiores contextualizações históricas, funciona mais para potencializar os motivos da vingança e intensificar a fúria do herói. A saga destemida e corajosa de Chen reedita o arquétipo do “exército de um homem só”, bastante comum em produções do gênero, promovendo a resposta individualista e violenta como forma de superação dos conflitos e adversidades, mas por outro lado, punindo exemplarmente tais ações inconsequentes e transgressoras (tudo leva a crer que Chen Zhen é alvejado por agentes ocidentais nos últimos instantes do filme).

Chen Zhen (Bruce Lee) invade o dojo japonês para dar uma lição em seus desafetos

A direção de “A Fúria do Dragão” articula uma atmosfera de revolta e injustiça crescentes, preocupada em retratar a caricatura dos excessos, abusos e humilhações dos japoneses, cujos motivos e maldades só se explicam pela ganancia, inveja ou a xenofobia pura e simples. Os combates são muito bem encenados e estilizados por meio de uma decupagem sóbria e contemplativa com muitos planos abertos e ângulos versáteis, construindo em torno da ação uma espécie de espetáculo ritualizado e fascinante, fruto da captação vibrante, às vezes em slow motion, dos movimentos inconfundíveis de Bruce Lee e seu estilo eloquente, expressivo, soberbo e estridente. Além disso, a coreografia sinérgica das lutas, fotografada com precisão e clareza, é acompanhada por uma mixagem de som atmosférica e minimalista que reforça o aspecto cerimonial e épico dos confrontos. Embora o enredo do filme não indique exatamente o tempo ou o período histórico da ocorrência dos eventos, tudo leva a crer que “A Fúria do Dragão” se passa na década de 1930, período de acirramento das rivalidades e eclosão das guerras sino-japonesas. O design de produção, nitidamente composto em estúdio, apresenta uma cenografia de Xangai das primeiras décadas do século XX, mesclando tradição e modernidade, identificada no progresso urbano cosmopolita de uma zona territorial neutra, convergente de um caudal étnico e cultural importante no oriente. Uma vez que o interesse de Wei está no aspecto estético e gráfico da ação, muito pouco se salva em termos dramáticos quando o foco não são as lutas. Bruce Lee é pura volúpia plástica enquanto destreza técnica e vibração no kung-fu, como ator, soa exagerado, caricato e passa um pouco do ponto em termos expressivos, dando um contorno até meio artificial e desequilibrado para seu personagem. Os diálogos fracos e frases feitas não ajudam muito, mas Tien Feng se destaca pela presença equilibrada e sensata como Fan, líder da Ching Wu, além de Nora Miao que comunica bem o estereótipo disciplinado e o auto-controle sentimental da mulher oriental como Yuan Le-erh, par romântico de Chen. No mais, Ao Wei Ping imprime tanto exagero e inconveniência ao Intérprete chinês Wu, traidor do próprio povo, sujeito repulsivo, irritante e puxa-saco, também alvo da vingança do protagonista. “A Fúria do Dragão” ajudou a forjar a lenda entorno do maior astro do cinema de artes marciais de todos os tempos, despontando junto com “Operação Dragão, 1973” de Robert Clouse como obras memoráveis na intensa e meteórica carreira de Lee. Muito do que as novas gerações conhecem a respeito do primeiro e maior ícone do kung-fu nas telonas se deve as grandes cenas de luta deste clássico influente de Lo Wei.


Por: Ábine Fernando Silva






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