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Foto do escritorÁbine Fernando Silva

A Hora do Pesadelo (1984)

Atualizado: 28 de abr.

Direção: Wes Craven

Roteiro: Wes Craven

Elenco principal: Heather Langenkamp, Robert Englund, John Saxon, Ronee Blakley, Johnny Depp, Amanda Wyss, Jsu Garcia.

Robert Englund interpreta Freddy Krueger em "A Hora do Pesadelo" de Wes Craven

Obra responsável por “cataputar” a carreira cinematográfica de Wes Craven, tornando-se uma das franquias de terror mais populares de todos os tempos, “A Hora do Pesadelo” rompe os paradigmas tradicionais do slasher ao propor uma trama que articula o real e o sobrenatural, concebendo um tipo de horror cujo alcance superdimensionado transformou seu icônico vilão Freddy Krueger (Robert Englund) numa figura mitológica das telas, responsável por perturbar o imaginário e porque não o sono de toda uma geração. O enredo de “A Hora do Pesadelo” acompanha um grupo de adolescentes que inexplicavelmente passam a ser atormentados por pesadelos com um psicopata do rosto queimado, chapéu preto surrado, suéter vermelho e verde listrados, portando uma luva cujas extremidades dos dedos ostentam ameaçadoras navalhas. Após a morte chocante e misteriosa de Tina (Amanda Wyss) e logo depois de seu namorado Rod Lane (Jsu Garcia) que havia sido preso como principal suspeito pelo assassinato da garota, Nancy Thompson (Heather Langenkamp) convencida de que os terríveis acontecimentos com seus amigos estão diretamente relacionados com pesadelos em comum, inicia uma verdadeira batalha para permanecer em vigília, enfrentando as constantes investidas do sádico das navalhas. Disposta a enfrentar o mal que a aflige, a garota descobre por intermédio da mãe, a história do perverso Freddy Krueger, um assassino de crianças, executado e queimado vivo pelos antigos moradores de Springwood (inclusive os pais de Nancy), numa espécie de justiçamento coletivo. Convicta da ligação entre os acontecimentos passados e os terríveis transtornos recentes, a jovem elabora uma estratégia corajosa para arrancar Krueger do pesadelo e finalmente destruí-lo. O roteiro criativo e original de “A Hora do Pesadelo” investe tanto na ambiguidade das realidades ao ponto de “bagunçar” intencionalmente “sonho” e “vigília”, sugerindo lá pro seu desfecho, a possibilidade de toda a história não passar de um extenso terror onírico, fruto da instável mente de Nancy. Wes Craven explora o potencial vulnerável de uma necessidade biológica e psíquica fundamental para dotar o sádico Freddy de uma capacidade e poder abrangentes, não protelando o aparecimento hediondo da ameaça, mas também, não revelando seus motivos de antemão. Craven lança mão de recursos sinuosos, pregando algumas peças no espectador (logo de cara acreditamos que Tina é a protagonista) e, sobretudo, proporcionando situações dramáticas intensas que aterrorizam pelas perseguições insanas e pela sutileza da tortura psicológica, repleta de um sadismo grotesco, onde o próprio Krueger parece se deleitar com auto-mutilações e com provocações verbais sinistras e lascivas. Embora o enredo resolva justificar a existência e as motivações reais do excepcional assassino das luvas de navalhas, jamais o apresenta fazendo referência ou verbalizando estas motivações, tornando sua presença sobrenatural exatamente como ela deve ser: aterradora e supostamente inexplicável. O mundo abastado, fútil e promíscuo dos adolescentes nos “slasher’s” jamais havia sofrido punição tão severa e implacável até então como em “A Hora do Pesadelo”, seja pela própria natureza e forma do mal que os arrebata, seja pela quase impossível condição de escapar com vida de uma armadilha tão inevitável e mortal. A trama desenvolve gradativamente o angustiante e desesperador estado de Nancy, personagem que enfrenta uma batalha exaustiva contra o próprio impulso natural do sono e inevitavelmente, contra o ardiloso e cruel maníaco onírico. Como se não bastasse, a jovem precisa lidar com uma série de conflitos e desentendimentos recorrentes com a família, cujo pai, o tenente Donald Thompson (John Saxon) pouco se envolve diretamente com suas recentes crises, e a mãe Marge Thompson (Ronee Blakley) sucumbe de vez ao alcoolismo ao se deparar com o ressurgimento sombrio e repentino de um mal que agora resolve “cobrar a conta”. Uma das críticas sociais mais salutares no roteiro do filme, além dessa espécie de maldição por um justiçamento coletivo, talvez esteja traduzida na inexistência de um diálogo e de um entendimento franco e sincero entre adultos e jovens que escancaram um conflito geracional ou o “autismo” dos mais velhos que desconsideram os medos e tormentos adolescentes, muitas vezes, encarados como “absurdos” e “fantasias” pouco relevantes. Aliás, a tática do vilão em aterrorizar e aniquilar a nova geração se alimenta deste distanciamento afetivo e deste ruído comunicativo.

https://twitter.com/cinemartistry/status/878764022480482304/Pesadelo de Tina (Amanda Wyss)

Wes Craven dirige “A Hora do Pesadelo” articulando um terror de sutilezas sádicas e de imagens violentas, sanguinolentas e repugnantes, numa decupagem que persegue enquadramentos mais abertos, ângulos de câmera variados e tensos para registrar a ação, tanto em espaços fechados quanto em espaços abertos, lançando mão de uma fotografia estilizada e pouco iluminada, aproveitando esse contexto do "sonho" e toda sua amplitude ilógica e metafísica em função da tortura, da sensação claustrofóbica de encurralamento e da crueldade das mortes. Neste sentido, o design de produção aproveita uma liberdade criativa expansiva, permitindo que objetos e elementos do cenário ganhem vida para intensificar ainda mais o horror (parede, escadas, crucifixo, chapéu, luva de navalhas, cama, telefone, etc.). Os efeitos especiais práticos e artesanais do filme recorrem a uma estética bastante trash que até que superam bem o crivo do tempo, assim como a maquiagem do rosto queimado de Freddy possui uma plasticidade caprichada ao não atrapalhar o alcance expressivo de Robert Englund. O trabalho de edição e mixagem de som é primoroso aqui, apostando no suspense e no clima de incerteza, avolumando a ameaça do vilão por meio de sua voz sinistra e maliciosa, e dos ruídos de sua presença horripilante. A música macabra e sinérgica de Charles Bernstein modula a dinâmica dos momentos cruciais e assustadores das perseguições do assassino e a montagem fluída da narrativa contribui inclusive para confundir nossa percepção de realidade x pesadelo. Heather Langenkamp vai cautelosamente se destacando na pele de Nancy, personagem que trava uma batalha intrépida contra o próprio corpo e decide corajosamente enfrentar Krueger. A jovem atriz surpreende ao demonstrar versatilidade dramática e imprimir intensidade ao papel de uma adolescente que a princípio tem presença tímida e discreta na trama. Por outro lado, muito do sucesso e do apelo popular entorno do simbólico maníaco dos pesadelos, deve-se à personalidade única e inconfundível de Robert Englund no papel que transformou de uma vez sua vida e carreira. Impossível não associar a figura de Freddy Krueger ao ator, e a obra de Craven potencializa esse talento de Englund, cuja presença pontual e estratégica no enredo, acaba sendo imprescindível para a construção de uma lenda na história do cinema de terror. “A Hora do Pesadelo” após três generosas décadas e inúmeras sequencias genéricas e pouco inspiradas, ainda transborda originalidade e um vigor estético perturbador, qualidades que ajudaram a oxigenar o slasher nos anos seguintes.


Por: Ábine Fernando Silva

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