Direção: Lee Cronin
Roteiro: Lee Cronin
Elenco principal: Alyssa Sutherland, Morgan Davies, Lily Sullivan, Gabrielle Echols, Nell Fisher.
Disponível: HBO Max
“A Morte do Demônio: A Ascensão” ostenta uma espécie de vigor criativo que dialoga diretamente com certas tradições do terror, preconizando um dinamismo dramático que assume abertamente a escatologia do horror gráfico e “non sense” da franquia de Raimi, inclusive, rejeitando certos convencionalismos lógicos de roteiro. O filme de Lee Cronin possui um comprometimento tão intenso com o fluxo dos acontecimentos, apostando, talvez, no próprio legado cinematográfico ao qual seu enredo remete que não perde tempo com “exposições” ou “justificações” acerca da ameaça demoníaca e suas intenções, deixando que a própria ação frenética intricada ao aspecto sempre violento e grotesco do “goore” mais empolgue, impressione e desestabilize o espectador do que evoque necessariamente o medo. Essa “autoconsciência” da força de um horror mais “gráfico” é muito eficiente, dinâmica e inventiva à medida que uma série de representações sinistras inspiradas em diversos clássicos do terror brotam em tela, reforçando, por um lado, essa “modinha” oportunista de “fan service”, mas, por outro lado, não soando taxativo e óbvio demais. É como se Cronin “surfasse” nessa tendência revisionista e nostálgica do gênero, lançando mão, sobretudo, de seus clichês estéticos (o jump scare, o ambiente claustrofóbico, a fotografia sombria e carregada, etc.), porém, pesando a mão numa “estilização” cada vez mais transgressora e brutal da violência, despistando suas intenções em relação ao destino cruel de certos personagens tão marcantes, ainda que estes possuam um tempo tão escasso de tela. Em “A Morte do Demônio: A Ascensão” tudo ocorre de forma direta e intensa, aproveitando o máximo possível todo potencial semântico da encenação, desde a desenvoltura descolada e a dinâmica carismática dos personagens, especialmente dos irmãos Danny (Morgan Davis), Bridget (Gabrielle Echols) e Kassie (Nell Fisher), as possibilidades criativas de um design de produção um tanto retro e sugestivo, até os efeitos especiais mais artesanais discretamente combinados aos CGI. O longa de Cronin parece evocar uma sensibilidade mais genérica e ingênua do terror, àquela comumente associada ao entretenimento e a fantasia pura e simples, traduzida pela apreensão e perigo de uma força maligna desconhecida e “encurraladora”, afastando-se, portanto, do apelo realista e das tensões do drama familiar, assim como dos “aprofundamentos” psicológicos presentes nos trabalhos de cineastas atuais como Mike Flanagan e Ari Aster. Até mesmo o protagonismo feminino no filme e suas possíveis sugestões simbólicas advindas, sobretudo, dos conflitos vividos por Ellie (Alyssa Sutherland) e Beth (Lily Sullivan) assumem muito mais um ar conveniente do que autêntico do ponto de vista dramático, o que em nada desabonam a importância de ambas na trama, seja a presença perturbadora da mãe possessa de um lado, seja a figura heroica e destemida da tia, do outro. Em suma, “A Morte do Demônio: A Ascensão” agora repaginada para as novas gerações, de certa forma consegue reacender aquela chama não tão despretensiosa assim do subversivo universo de terror concebido por Raimi nos anos 80, aquela que conquistou uma legião de fãs graças a sua pegada narrativa mais instintiva e menos cerebral.
Por: Ábine Fernando Silva
Nota: (7 / 10)
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