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  • Foto do escritorÁbine Fernando Silva

A Outra História Americana (1998)/Impressões

Direção: Tony Kaye

Roteiro: Tony Kaye e David Mckenna

Elenco principal: Edward Norton, Edward Furlong, Ethan Suplee, Fairuza Balk, Stacy Keach, Jennifer Lien, Guy Torry, Jason Bose Smith, Avery Brooks.

Disponível: Prime Video

Edward Norton interpreta Darek Vinyard, um líder neonazista no filme de Tony Kaye

Primeiro filme do diretor britânico Tony Kaye, "A Outra História Americana" (1998) se estrutura como um drama social bastante direto, dotado de nuances didáticas sobre a natureza do ódio racial que acaba envolvendo Darek Vinyard (Edward Norton), um jovem branco de classe média que se torna líder de um incipiente grupo de neonazistas num subúrbio de Los Angeles nos anos 90. A pegada de crônica urbana trágica do filme busca sustentar seu ímpeto exemplar de "ensinamento” acerca dos efeitos nocivos e desumanos do racismo, monopolizando a proposta da produção do diretor, sobretudo, por conta das escolhas de roteiro, onde, basicamente o adolescente Danny Vinyard (Edward Furlong) escreve um ensaio escolar autobiográfico confidenciando seu processo de reflexão e superação do ódio, inspirado no fatídico exemplo de vida do irmão mais velho e ex-chefe dos skinhead de Vanice Beach, condenado a três anos de reclusão após assassinar brutalmente dois jovens negros. Ora, a narrativa adota em sua própria encenação, inclusive em certos diálogos e monólogos, um tom taxativamente retórico e expositivo, o que de certa forma, parece prejudicar um pouco a pretensão mais realista e natural do drama como um todo. Há nesse movimento pedagógico e conscientizador da trama uma espécie de tentativa explícita e bem sucedida em legitimar a “tese social” da irracionalidade estúpida por trás dos ideais supremacistas e dos sentimentos de intolerância, cuja justificação oportunista relacionada à questões de ordem política e econômica, levada a cabo pelas lideranças racistas, acabam funcionando como “gatilho” ideológico para a incitação e o recrutamento de uma militância jovem rancorosa, branca e extremista. O texto de Tony Kaye e David Mckenna ratifica a complexidade e ambiguidade das relações racializadas na sociedade estadunidense à medida que demonstra por meio da própria tragédia pessoal de Darek, a completa insignificância, nulidade e alienação de sua utopia ariana, “demolida” pelo choque de realidade experienciado na prisão. Uma vez que as atenções do roteiro se concentram nessa jornada amarga de superação e tentativa de redenção, pelo menos outras duas subtramas acabam mal aproveitadas (a da investigação policial e a do jovem negro atirador), nada que comprometa o fluxo do arco principal, seu impacto dramático e o envolvimento do espectador. A construção narrativa alternando presente e passado (na forma de flashbacks em preto e branco) comunica bem o antes e depois do personagem de Norton, enfatizando a transformação dolorosa e radical de sua visão de mundo, imprimindo um ritmo envolvente e instigante aos eventos, mas talvez, exagerando um pouquinho na representação mais estilizada de Darek enquanto líder neonazista e insistindo em certos maneirismos afetivos entre os Vinyard com o retorno do “filho pródigo” ao lar. Nesse sentido, a direção de Kaye recorre frequentemente a uma decupagem mais intimista e intrusiva, abusando da câmera lenta, dos planos detalhes, dos closes exaustivos e da trilha sugestiva, buscando se equilibrar em recursos estilísticos mais seguros e convencionais, e preconizando o talento performático do elenco, especialmente de Norton e Furlong, responsáveis pelas melhores cenas do filme, carregadas de muita intensidade dramática. É impressionante como, mais de vinte anos depois, a mensagem de “A Outra História Americana” ainda soa tão contundente e atual, isto porque todo o contexto moderno da expansão da internet e da inclusão digital trouxe consigo também um ambiente fértil para um recrutamento crescente e uma articulação mais organizada de diversos grupos extremistas de ultradireita no mundo inteiro. Temos aí o longa de Tony Kaye como uma espécie de alerta e ensinamento sobre as armadilhas ideológicas do ódio racial e suas consequências sociais nefastas.


Por: Ábine Fernando Silva


Nota: 7,5 / 10


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