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Foto do escritorÁbine Fernando Silva

# Alive (2020)

Direção: Cho Il-Hyung

Roteiro: Cho Il-Hyung/Matt Naylor

Elenco principal: Yoo Ah-in (Oh Joon-woo), Park Shin-hye (Kim Yoo-bin), Jeon Bae-soo (vizinho de Oh Joon-woo), Lee Chae-kyung (esposa zumbi).

Disponível: Netflix

Yoo Ah-in em cena do filme # Alive de Cho Il-Hyung

"# Alive" é mais uma das inúmeras produções cinematográficas sobre mortos-vivos lançada no bojo dos últimos anos e que em virtude da pandemia, acabou sendo recentemente incluída no catálogo da Netflix ao invés de seguir com lançamento oficial nos cinemas mundo afora. O filme chama a atenção por sua inteligente e diversificada dosagem dramática, misturando com dinamismo o terror, o suspense, o drama, a ação e o humor num enredo de encurralamento zumbi que não perde um segundo para mostrar a que veio. O jovem streaming de games Oh Joon-woo (Yoo Ah-in) ao despertar solitário em seu confortável apartamento e verificar o bilhete e o dinheiro deixado pelos pais para que fizesse as compras do dia, passa a assistir atônito a um verdadeiro pandemônio pela sacada do prédio, haja vista a proporção frenética de eventos anormais que rapidamente se avolumam, anunciando um famigerado apocalipse zumbi. Não obstante, a jovem Kim Yoo-bin (Park Shin-hye), outra sobrevivente da súbita tragédia e vizinha do prédio enfrente ao de Oh Joon-woo estabelece um amigável vínculo motivacional com o rapaz, decidindo juntos e corajosamente enfrentar a terrível horda destrutiva de mortos vivos do entorno para alcançar o terraço do prédio e quem sabe, conseguirem um resgate. O roteiro de “# Alive” aborda a devastação gigantesca, intensa e inadvertida do surto de um vírus que transforma os seres humanos em ameaças canibais, primeiramente, a partir da ótica de um adolescente, confinado em seu apartamento, acuado pela hostilidade violenta dos eventos externos, indeciso sobre que atitude tomar diante de uma situação limítrofe, uma vez que a comida, a água e os recursos oriundos do conforto do lar (principalmente os tecnológicos e de comunicação) vão paulatinamente escasseando ou tornando-se inoperantes. Conforme a intensidade dos perigos aumenta, assim como a passagem do tempo lembra o protagonista que não lhe resta muitas alternativas ao restringir-se na suposta segurança do lar, o drama individual da falta de perspectivas e a fragilidade emocional oriunda da possibilidade de estar sozinho no mundo (a família também teria se tornado presa dos mortos-vivos) arrebata o garoto que ao que tudo indica, não era muito propenso aos desafios da vida real já que passava boa parte do seu tempo mergulhado nos games, escancarando sua condição vulnerável para lidar com os terríveis acontecimentos inauditos. Quando tudo parecia estar perdido, só “parecia” haja vista que a história não tomaria um rumo tão distinto e surpreendente a esta altura do campeonato, eis que surge a destemida Kim Yoo-bin para dar novo fôlego à trama, subverter a tragicidade que conduzia o destino de Oh Joon-woo e trazer muitos momentos cômicos advindos da relação que o roteiro passa a explorar entre os dois. Os personagens são muito bem construídos, suas personalidades cativantes, carismáticas e seus motivos, incertezas e temores completamente pertinentes e interessantes. A identificação com os dilemas de sobrevivência que os novos amigos passam a encarar é instantânea, mesmo que não concordemos com um pessimismo latente que os assola e que encontra certa justificativa na ausência de quaisquer autoridades ou equipes de resgate próximas desde que se iniciara todo caos.

Park Shin-hye interpreta a jovem sobrevivente Kim Yoo-bin em # Alive

Há muitas situações de ataques e enfrentamentos que colocam os protagonistas por um triz, todavia, o roteiro sempre se encarrega de traçar soluções miraculosas e conduzir escapadas para lá de mirabolantes para livrá-los de uma morte certa, investindo numa ação alucinante, tensa e frenética seja nas cenas que se desenrolam diante da varanda da dupla, seja nos ataques que inevitavelmente atingem o interior dos apartamentos ou por corredores estreitos, cheio de obstáculos e apinhados de zumbis famintos. O design de produção do filme é muito competente ao preencher o cenário com uma série de objetos, escombros e parafernálias advindas da destruição em processo e da carnificina que de uma forma ou de outra acabam contribuindo para a dinâmica narrativa, além disso, o uso dos objetos tecnológicos, principalmente de comunicação (computador, televisão, celular, walk tok, drones, fones de ouvidos, etc.) tem função dramática primordial, dando impulso ao desenvolvimento dos acontecimentos. A direção de Cho Il-Hyung equilibra com desenvoltura a decupagem interna e externa dos espaços, com planos mais fechados nos ambientes dos apartamentos, mas açabarcando em sua mise-en-scene a gradual transformação física do local, sua destruição, penumbra e isolamento o que estimula a sensação claustrofóbica e de encurralamento a que os personagens são submetidos. Por outro lado, os planos mais abertos, sobretudo dos corredores estreitos ou da rua em frente aos prédios dão o tom do perigo iminente, do risco constante e da destruição mortífera. As cenas de ação são construídas aproveitando muitos ângulos diferentes de câmera, inclusive da steadicam acoplada ao corpo dos personagens, conferindo mais adrenalina e realismo. Os combates corporais e mortes são tensas, extremamente violentos, no melhor estilo gore que o próprio subgênero promoveu ao longo do tempo, ainda que sejam contrabalanceadas por momentos desprendidos e cômicos envolvendo os protagonistas. Os zumbis são criaturas rápidas, com uma audição acurada, cujas expressões faciais (algumas levemente manipuladas por computação gráfica) e fisicalidade geram terror e repulsa simultaneamente. “# Alive” está longe de se tornar uma grande obra zumbizesca, reproduz muitos clichês, opta por não explorar dentro do universo da trama o conceito “zumbi” (isso não é um problema), ignorado completamente pelos protagonistas, facilita a vida destes ao poupá-los de situações irreversíveis com soluções quase mágicas, induzindo uma previsibilidade barata em prol da ação e da tensão enervante, mas tem um crédito enorme por desenvolver personagens com uma química interativa muito convincente, cheios de carisma, fáceis de gostar e de torcer. Aliás, os dois atores tem performances cativantes, de um lado, Yoo Ah-in transmite com naturalidade o adolescente meio desconexo com o mundo real, imaturo e atrapalhado que com o tempo encontra a força e a coragem necessárias para enfrentar os perigos (com a ajuda de Kim Yoo-bin é claro). Do outro lado, Park Shin-hye vive a corajosa, espontânea e imprevisível vizinha que embora represente o oposto de Oh Joon-woo em maturidade e convicção, também encontra na incipiente amizade com o rapaz o alento de vida e esperança de salvação. “# Alive” funciona como uma ótima experiência de entretenimento que não se deve levar a sério assim como boa parte das obras do subgênero zumbizesco. O que vale aqui é a empolgação e a diversão, mergulhando sem titubeios na tão indispensável “suspensão de descrença”.


Por: Ábine Fernando Silva

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