Direção: Greta Gerwig
Roteiro: Greta Gerwig e Noah Baumbach
Elenco principal: Margot Robie, Ryan Gosling, Simu Liu, America Ferrera, Ariana Greenblatt, Michael Cera, Will Ferrell, Rhea Perlman.
Em “Barbie” Greta Gerwig consegue com muito senso inventivo resgatar parte significativa do universo lúdico e simbólico da icônica boneca da Mattel, ao passo em que articula numa narrativa bastante fluída elementos de diversos gêneros cinematográficos (fantasia, humor, musical, drama, etc.) convergindo para uma dinâmica estilística toda carismática e sarcástica que não poupa a controvérsia do impacto sócio-cultural da Barbie no imaginário infantil e potencializa sua crítica feminista ao “patriarcado”, acenando para uma série de representações culturais, algumas delas do próprio cinema, que ajudaram a “moldar” uma mentalidade masculina tóxica. É bastante oportuno e inteligente como Gerwig dá vida a “Barbielandia” por meio de uma encenação extremamente plástica, espalhafatosa e colorida, emulando o lúdico infantil com o brincar, inclusive conferindo-lhe amplitude dramática, uma vez que as “Barbie’s”, os “Ken’s” e afins agem e interagem artificialmente, o que de certa forma, possibilita uma leitura autoirônica e meio “debochada” de tudo. Ao seu modo, o “mundo real” também possui essa nuance jocosa com uma boa dose de lógica “non sense” e exagerada, haja vista o comportamento taxativamente nocivo dos humanos com a protagonista, as paspalhices dos executivos da Mattel, a própria naturalização da existência de um “portal” que leva à “Barbielandia”, etc. Há um tom de diversão traquina e galhofeira na mise-en-scene da diretora que alcança pela metalinguagem certo legado do cinema hollywoodiano, isto porque o roteiro também assinado por Noah Baumbach opera “trolando” suas referências em prol da convicção da mensagem contra o “machismo estrutural” e também contra os impactos negativos da criação da Mattel, duramente questionada ao ter ajudado a prestigiar e promover ao longo das gerações certos padrões de beleza. Como a dinâmica da trama torna a aventura da “Barbie Estereotipada” (Margot Robie) instigante, engraçada e propositiva, certas incongruências em sua jornada, assim como o subaproveitamento de determinados arcos nem chegam a incomodar, já que os principais conflitos apresentados são muito bem resolvidos, inclusive, o que aproxima mãe e filha. Essa pegada de “autocrítica” que me parece claramente não só disposta nas sequências e diálogos envolvendo a famosa corporação de brinquedos, mas, sobretudo, na forma como a cineasta representa artificialmente esse universo Barbie encontra um equilíbrio eficaz justamente porque consegue soar autêntico, sincero e no fim das contas, a boneca estereotipada “escolhe” ser uma mulher de verdade com todos os seus desafios e contradições, rejeitando a fantasia utópica e convencional do faz de conta infantil. Por outro lado, é até compreensível e previsível como Greta Gerwig e Noah Baumbach reforçam a crença num tipo de feminismo mais “mainstream”, aquele mais palatável a Hollywood, que não prescinde da democracia liberal, mas que serve para derrotar definitivamente o Ken (Ryan Gosling), misto de tirano e "redpill", por meio da crença no poder do “discurso consciente” e da “via constitucional”. De certa forma, essa mensagem insistente que promove o “empoderamento feminino” ganha, muitas vezes, contornos discursivos didáticos e explícitos em sintonia com as escolhas visuais pitorescas do filme, contribuindo para “tensionar”, a sua maneira, o debate sobre o “patriarcado” fora das telas. “Barbie” para além de sua campanha feroz de marketing disseminando uma “febre rosa” estonteante por aí, reverbera como uma espécie de exercício estético divertido, criativo e engajado de sua realizadora.
Por: Ábine Fernando Silva
Nota: (7 / 10)
Gostei muito da forma com a qual você discorreu sobre os temas abordados no filme. Apesar do filme não ter aprofundado os temas, até por conta da duração, creio que ele surpreendeu por se distinguir das animações voltadas para as crianças e por mostrar que perfeição não existe.