Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Bob Gale
Elenco principal: Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Thomas F. Wilson, Lea Thompson, Elisabeth Shue.
Segundo episódio da divertida trilogia de Zemeckis sobre viagem no tempo, “De Volta para o Futuro II” segue na esteira do retumbante sucesso do filme de 1985, aproveitando o melhor da primeira experiência criativa e original protagonizada por Marty McFly (Michael J. Fox) e Emmett Brown (Christopher Lloyd) para articular uma trama mais robusta, frenética e intensa, expansiva em suas possibilidades narrativas, ambiciosa no uso dos efeitos especiais, visualmente fascinante e imersiva, devotada à aventura e a já conhecida e eficiente fórmula do humor inusitado, decorrente do choque de realidades temporais. Antes mesmo de por os pés em casa, logo após a primeira aventura, Marty e a namorada Jennifer Parker (Elisabeth Shue) são convencidos por Brown a embarcarem na máquina do tempo direto paro o ano de 2015 no intuito de salvarem da ruína a família McFly, vítima de Griff (Thomas F. Wilson), neto do velhinho Biff. Enquanto o cientista e o garoto lidam com a questão, Jennifer inadvertidamente é conduzida pela polícia para o que seria sua residência no futuro, gerando uma grande confusão, já que a moça acaba conhecendo sua própria versão mais envelhecida. Resolvido o problema com seu filho pateta que provocaria a desgraça da família, Marty adquire um almanaque de esportes (com resultados esportivos de cinco décadas) na intenção de leva-lo para casa e impedido pelo amigo cientista, o catálogo vai parar nas mãos do vovô Biff que sem que os protagonistas percebam (estavam tentando resgatar Jennifer na residência McFly) parte no DeLorean direto para 1955, entregando a famigerada revista para sua versão mais jovem que se tornaria rica e poderosa por meio das apostas bem sucedidas, previstas pelas informações do futuro. Quando o trio finalmente retorna para 1985, uma Hill Valley caótica e meio pós-apocalíptica se descortina em decorrência da mudança na linha do tempo operada pela viagem do vovô que transformou seu passado, tornando-se um Biff milionário e tirânico, destruindo a vida de Brow e Marty nesta realidade. Sendo assim, o cientista e seu jovem companheiro viajam para 1955, inclusive revisitando eventos e situações da primeira aventura, tentando evitar que o almanaque chegue às mãos do paspalho Tannen e consertando a fratura temporal capaz de criar outro percurso para os acontecimentos. O roteiro de Bob Gale para esta segunda versão da franquia é mais intricado e complexo, frenético em suas peripécias desde início e devotado à ação, muito embora reaproveite alguns recursos dramáticos promissores do primeiro filme, não só revisitando de forma lúdica os acontecimentos hilários de sua última parte, como também aproveitando o “humor da surpresa” e da “confusão inusitada”. A fórmula da diversão e do riso fácil encontra vazão em eventos que se sucedem de maneira espontânea e inesperada, onde cada problema gera outro problema a ser solucionado: viagem a 2015 para salvar o destino dos McFly; vovô Biff leva o almanaque de esportes a 1955; Jennifer conhece sua versão no futuro e assim por diante. Uma das grandes novidades em “De Volta para o Futuro II” e um dos aspectos mais marcantes de sua trama consiste em recriar uma versão futurística de Hill Valley (2015), imagética e de um retrô hi-tech, tanto na cenografia, quanto nos figurinos e objetos (skate e carros voadores), além das criativas e divertidas referências à cultura pop que vão de hologramas do clássico Spielberguiano “Tubarão, 1975” ao ilustre garçom Michael Jackson (no formato tela de tv) na lanchonete “Café Anos 80”.
A jornada de Doc e Marty vai de 2015 para 1985 e depois recua novamente até 1955, propondo neste percurso, uma variedade tipificada e caricata de personagens vividos pelo próprio elenco principal que se desdobra, de maneira engraçada, para representar suas outras versões e descendentes nos distintos tempos. A fratura temporal causada pela interferência direta do vovô Biff que cria uma nova linha do tempo constitui o mote da aventura que promove seu vilão tosco e imbecilizado, conferindo-lhe bastante enfoque, ainda que o resultado de sua derrocada seja bem previsível. As peripécias e a superação de obstáculos imprevisíveis imperam em detrimento de um maior aprofundamento das relações pessoais entre os protagonistas ou demais personagens e a namorada de Marty acaba sendo totalmente escanteada na trama. Aparece de novo neste segundo episódio, agora com um pouco mais de insistência, a reflexão acerca do uso antiético da Ciência e suas consequências desastrosas, à medida que o cientista interpretado por Christopher Lloyd passa a considerar os riscos, armadilhas e desejos mesquinhos advindos da experiência de se viajar no tempo, lembrando ao seu caro jovem companheiro a necessidade urgente em destruir, assim que possível, a perigosa invenção. A direção de Robert Zemeckis aposta na aventura e nas confusões da viagem no tempo utilizando o dinamismo do roteiro para construir cenas de ação eletrizantes e cheias de humor, repetindo inclusive em seu primeiro ato futurístico, boa parte dos planos e sequencias das peripécias de Marty no primeiro longa. A cinematografia açambarca os ambientes, os detalhes dos cenários e os figurinos das diferentes épocas, articulando um fascínio pela magia dos espaços, das novidades e dos imprevistos, fisgando o espectador através do apelo gráfico e imersivo, da excelente condutividade rítmica da edição, do embalo orgânico da ação novamente manifestado pela trilha de Alan Silvestri e dos efeitos especiais mais sofisticados e realistas, sobretudo, quando o DeLorean voador, mais versátil e moderno entra em cena. Novamente a simpatia espontânea e carismática dos personagens dá folego e vigor à trama, ensejando o sucesso do filme, principalmente quando estimula e desafia a desenvoltura teatral de Michael J. Fox ao viver três McFly diferentes (Marty McFly pai, Marty McFly Jr. e Marlene McFly) e de Thomas F. Wilson que encarna também três versões do vilão descerebrado Tannen (vovô Biff, Griff e Biff Tannen). “De Volta para o Futuro II” consegue garantir a diversão, o entretenimento e boas risadas, mantendo certa originalidade e encanto em sua proposta visualmente ambiciosa e aventureira. A reciclagem de algumas ideias do filme anterior, principalmente no tocante ao humor, está longe de ser um problema, algo que Zemeckis e Gale redimensionam com oportunismo e criatividade, deixando o caminho livre para o excelente desfecho na terceira sequencia rodada concomitantemente com o segundo episódio e lançada em 1990.
Por: Ábine Fernando Silva
Adorei!
Eu assisti aos dois filmes quando criança, mas nunca entendi muito bem.
Agora, entendi - com uma riqueza de detalhes - bem melhor.