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Foto do escritorÁbine Fernando Silva

Dirty Dancing – Ritmo Quente (1987)

Atualizado: 20 de jan. de 2023

Direção: Emile Ardolino

Roteiro: Eleanor Bergstein

Elenco principal: Patrick Swayze, Jennifer Grey, Jerry Orbach, Cynthia Rhodes, Jane Brucker, Jack Weston, Kelly Bishop.

Cena memorável de Baby (Jennifer Grey) e Johnny Castle (Patrick Swayze) em "Dirty Dancing - Ritmo Quente"

Sucesso absoluto de bilheteria e talvez o filme romântico mais adorado dos anos 80, “Dirty Dancing – Ritmo Quente” nasceu como um projeto ousado e dissonante em relação aos padrões do gênero, marca de uma leitura de mundo bastante lúcida e sensível às questões sociais da roteirista Eleanor Bergstein que junto com produtora Linda Gottlieb pelejaram consideravelmente até encontrarem um estúdio que topasse o desafio de filmar a história de Baby (Jennifer Grey) e Johnny Castle (Patrick Swayze), considerada intragável demais por tocar em temáticas sociais austeras e indigestas, nada convencionais para o cinema comercial da época. Após sonoras negativas de grandes estúdios, a pequena produtora Vestrom topou a empreitada e o novato Emile Ardolino com apenas um documentário no currículo realizou uma obra única, cuja sensibilidade estética desenvolta reuniu elementos que caíram na graça do público e da crítica, transformando o filme numa unanimidade. O enredo bastante simples de “Dirty Dancing – Ritmo Quente” acompanha a adolescente Frances Baby Houseman que no verão de 1963 viaja de férias com a família até um resort de elite nas montanhas, testemunhando tensões sociais pungentes entre funcionários e ricaços e embarcando numa jornada de amadurecimento, emancipação pessoal e despertar amoroso, onde a inexperiente garota no compasso do aprendizado e aperfeiçoamento de diferentes estilos de dança acaba vivendo uma história de amor arrebatadora e repleta de obstáculos de classe com o sisudo galã e coreografo Johnny Castle. O roteiro de Eleanor Bergstein concentra-se na perspectiva da personagem de Jennifer Grey, cuja condição socioeconômica abastada não a transforma numa “patricinha” alienada, pelo contrário, desde o início da trama, fica evidente o aspecto sensível e interessado da jovem pelo universo delimitado e marginal dos empregados do resort, nunca prevalecendo uma espécie de aproximação forçada, destacando-se uma consciência sincera das questões sociais, inclusive em relação à sua posição de privilégios e regalias, o que gera um dos embates mais interessantes do filme entre a jovem e o pai, Dr. Jake Houseman (Jerry Orbach) que até então se mostrava sensível aos pobres e simpático com as causas humanitárias. A luta de classes dentro da “colônia de férias” manifesta-se com frequência, seja na forma como os ricos se aproveitam da mão de obra e da necessidade essencial do trabalho, imprescindível à sobrevivência dos funcionários, reproduzindo uma série de abusos e humilhações ou em contrapartida, como os próprios pobres tendem a manifestar sua desconfiança e desdém legítimos, como desconfiança e mecanismo de defesa, em relação à postura preconceituosa e abusiva das famílias endinheiradas. É neste sentido que o personagem de Patrick Swayze resiste à presença da protagonista na rotina e nas diversões dos colegas de profissão, suspeita de sua generosidade desinteressada e custa a simpatizar-se com a moça, o que acaba inevitavelmente num envolvimento amoroso apaixonado, reeditando o mito da “princesa e do plebeu”, construído por meio da linguagem sensual dos movimentos corporais da dança, fenômeno que celebra no filme a “união” entre as classes, aspecto de “carnavalização das estruturas sociais” e que engloba um ecletismo de estilos rítmicos latinos eletrizantes.

Baby e Johnny "reeditam" o mito moderno da princesa e o plebeu

Como se não bastasse, “Dirty Dancing – Ritmo Quente” toca na ferida do machismo falso galanteador que submete as mulheres a injustos vexames e sofrimentos, trata o “aborto” da personagem Penny Johnson (Cynthia Rhodes) como escolha consciente e autônoma sobre o próprio corpo, além de refletir sobre emancipação feminina, não importando aqui o corte de classe. À medida que a protagonista entra de cabeça na relação com experiente pé de valsa Johnny, o roteiro equilibra seu interesse, justificando a dureza e truculência de um sujeito farto das humilhações e extravagâncias dos ricos, cuja índole subalterna e passiva em relação aos excessos e desmandos da profissão revela o medo de perder o sustento exercendo aquilo que realmente sabe fazer com alma. As razões de um jovem talento desacreditado e desiludido com as artimanhas de uma realidade social impiedosa tornam justas e compreensíveis o comportamento do rapaz que encontra no amor de Baby uma exceção verdadeira e uma esperança alentadora para o futuro. O carisma do casal convence com facilidade o expectador, fisgado pela excelente disposição dos elementos dramáticos que se destacam nos conflitos, na persistência para superar obstáculos, nos vibrantes números de dança e nas canções inesquecíveis sincronizadas a cenas de impacto emocional como “In the Still of the Night” de Fred Parris and The Satins , “She's Like The Wind” do próprio Patrick Swayze e a sensacional “The Time Of My Life” de Bill Medley e Jennifer Warnes. A direção de Emile Ardolino dá conta de explorar com contundência os conflitos sociais do enredo e o romance entre Baby e Johnny Castle por meio de uma câmera intimista e detalhista que se interessa pela naturalidade das expressões, dos gestos e olhares. Há uma abordagem irônica e ácida dos ricos, retratados com certa futilidade, alienação, arrogância e comportamentos imbecilizados, ao passo que os pobres trabalhadores não fogem a uma estereotipação lasciva e muito sensualizada no que se refere às cenas de dança. O coração de “Dirty Dancing – Ritmo Quente” são os espetáculos de danças latinas, o swing frenético, bem coreografado e ritmado que a direção consegue captar com uma energia contagiante e imersiva, reservando para o clímax um dos números mais adorados, festejados e imitados nas festas de casamento ou bailes de formatura mundo afora com o retorno apoteótico de Johnny Castle para uma última dança com Baby ao som de “The Time Of My Life”. Se tem um aspecto que passa quase despercebido no filme de Ardolino é sem dúvida a contextualização temporal, pouco evidente no design dos cenários ou figurinos, que se por um lado não chega a ser um defeito que afete a substância narrativa, por outro, talvez ajudasse a pontuar com maior precisão histórica os conflitos sociais mais tradicionais. Sobre as atuações, Jennifer Grey, transmite a timidez curiosa da mocinha desengonçada, do “patinho feio” e pouco atraente que por meio da dança e do amor aflora uma autonomia inabalável e uma sensualidade de mulher poderosa, no papel da sua vida. Patrick Swayze demora um pouco para agradar na pele do arrogante e convencido dançarino, no entanto, a identificação com o personagem fica mais fácil quando seus dramas e vulnerabilidades pessoais são revelados, embora a química do sujeito com Baby pareça ser mais convincente durante as performances de dança. Cabe destacar a presença marcante e expressiva de Jerry Orbach como o médico Jake Houseman, o carinhoso pai que testemunha o desabrochar para a vida e o amadurecimento da filha caçula. “Dirty Dancing – Ritmo Quente” marcou uma geração, transformando-se em um dos romances mais queridos e bem sucedidos da História do Cinema graças à persistência e ao talento de um grupo de artistas convictos da autenticidade narrativa e vibrante de sua obra.


Por: Ábine Fernando Silva

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