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Foto do escritorÁbine Fernando Silva

Era Uma Vez na China – Guerreiros à Prova de Balas (1991)/Impressões

Atualizado: 8 de abr. de 2023

Direção: Tsui Hark

Roteiro: Tsui Hark, Yun ming-Leung, Kai-Chi Yuen

Elenco principal: Jet Li, Rosamund Kwan, Biao Yuen, Kent Cheng, Shi Kwan-Yen, Jack Cheung.

Disponível: Amazon Prime Video

Jet Li vive o lendário mestre e herói chinês Wong Fei Hung no longa de Tsui Hark

“Era Uma Vez na China – Guerreiros à Prova de Bala” (1991) de Tsui Hark inicia uma exitosa franquia de filmes de artes marciais, trazendo como “carro chefe” em seu elenco, o mestre de kung-fu e astro do cinema asiático Jet Li. A narrativa dinâmica e preciosista de Hark parece buscar incessantemente o aperfeiçoamento e a lisura de sua composição coreográfica, sobretudo, na forma em que propõe a plasticidade voluptuosa dos movimentos e estabelece uma sequência extremamente complexa, mas precisa da ação, traduzida não só pelo perfeccionismo dos planos e ângulos de câmera, como também pela montagem detalhada, límpida e apurada. Essa consciência do legado cultural do kung-fu e da própria tradição cinematográfica mais mística do “wuxia” transborda numa trama intrincada e que ganha ares épicos graças a sua suntuosa ambientação de época e seu arcabouço de luta política e ideológica contra o imperialismo europeu e estadunidense, promovendo a figura sábia, honrada e simpática do lendário mestre e herói chinês Wong Fei Hung, interpretado por Li. Hark articula um tipo de narrativa bastante engajada com a premissa da insubordinação ao processo de "ocidentalização", destacando com insistência, seja através dos próprios eventos, seja através dos diálogos entre os personagens, a necessidade dos chineses em reafirmar uma soberania cultural e uma resistência bélica. Ora, nesse sentido, vai ficando cada vez mais evidente, conforme a história avança, o valor e a magnificência de um povo guerreiro que luta para preservar seus domínios, suas raízes culturais e sua dignidade frente ao assédio do cristianismo católico, aos interesses comerciais escusos da “sociedade sino pacífica” e, sobretudo, às frequentes arbitrariedades das forças militares estrangeiras no uso das armas de fogo. O roteiro de “Era Uma Vez na China – Guerreiros à Prova de Balas” recorre a um tipo de “representação dramática” bastante versátil que junta ao seu conceito substancial de espetáculo coreográfico de kung-fu, elementos de um humor mais caricatural e até mesmo certas nuances de melodrama, chamando à atenção para personagens que vão gradativamente ganhando um destaque importante como Tia Treze (Rosamund Kwan), a jovem educada na Inglaterra, Wing (Kent Cheng), o vendedor de carne suína e leal discípulo de Fei Hung, além de Leung Foon (Yuen Biao), o atrapalhado aspirante a ator em busca de um mestre. O choque cultural é constantemente evidenciado no longa que, por outro lado, não chega a “rejeitar” ou “depreciar” por completo o impacto do contato e dessa relação cada vez mais estreita entre China e ocidente (Wong Fei Hung até adere à moda do terno). Ao invés disso, o diretor chinês prefere prestigiar a tradição, os costumes e a sabedoria milenar do seu povo ao passo em que também lança luz aos mecanismos de dominação imperialistas que criam as dificuldades materiais, cooptando assim os próprios “dominados” para que sirvam aos seus interesses. Nesse sentido, a missão nobre e a figura heroica quase sobre humana do protagonista ganham destaque, especialmente, na resistência à ameaça estrangeira, aliada à criminosos locais e também ao ganancioso e implacável mestre Iron Robe Yim (Shi-Kwan Yen). Tsui Hark constrói um espetáculo cênico intenso e ousado para exaltar a destreza, a agilidade e as habilidades marciais de Fei Hung e Yim, aproveitando a variedade dos objetos de cena em prol da ação e comunicando através de seu estilo sofisticado e caprichoso (planos acurados e montagem fluída) um fascínio catártico e um entusiasmo ascendente pelo ritual frenético das batalhas. É impressionante, por exemplo, como o duelo entre os mestres (o desafio na chuva e a luta final no galpão) destoa numa espécie de “balé místico” e “transe temporal”, atendendo aos propósitos da trama de reafirmar e glorificar o valor e a cultura de um povo através de uma arte marcial tão letal e implacável quanto as armas de fogo. “Era Uma Vez na China – Guerreiros à Prova de Balas” vai além do mero entretenimento e da bela exibição da mecânica plástica do kung-fu, tão sedutor aos olhares ocidentais. Aqui, Tsui Hark oportunamente “calibra” seu compromisso patriótico ao contexto de guinada econômica e cultural da China no início dos anos 90.


Por: Ábine Fernando Silva


Nota: (8 / 10)


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