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Foto do escritorÁbine Fernando Silva

Esqueceram de Mim (1990)

Atualizado: 22 de abr.

Diretor: Chris Columbus

Roteiro: John Hughes

Elenco principal: Macaulay Culkin (Kevin MacCallister), Joe Pesci (Harry Lime), Daniel Stern (Marv Merchants), Catherine O'Hara (Kate McCallister), John Heard (Peter McCallister), Senhor Marley (Roberts Blossom), Devin Ratray (Buzz McCallister).

Kevin (Macaulay Culkin ) e os azarados ladrões Harry (Joe Pesci) e Marv (Daniel Stern)

Filme que consagrou o astro mirim Macaulay Culkin aos dez anos de idade tornando-se por muitos anos uma das maiores bilheterias da História do Cinema “Esqueceram de Mim” se desenvolve como uma comédia familiar idealizada e carismática, fluindo num dinamismo narrativo e versátil, cuidadosamente articulado para "fisgar" o público, envolve-lo e, sobretudo, cativá-lo na torcida para que o pequeno Kevin McCallister (Macaulay Culkin) supere suas vulnerabilidades e obstáculos, finalmente reencontrando sua amada família. O longa natalino de Columbus converteu-se numa aposta mais do que acertada da 20th Century Fox, faturando no mundo inteiro a soma de US$ 476.7 milhões e fincando as bases de uma franquia promissora. "Esqueceram de Mim" apresenta a numerosa família MacCallister as vésperas de uma viagem de férias à Paris e mergulhada no alvoroço dos preparativos. É neste contexto que o pequeno Kevin, excluído e menosprezado por todos acaba brigando com o irmão mais velho durante o jantar, gerando uma confusão tremenda e fazendo com que sua mãe, Kate McCallister (Catherine O'Hara) o coloque de castigo para dormir no sótão. No dia seguinte, os MacCallister, afoitos e pressurosos para chegar a tempo ao aeroporto, esquecem Kevin em casa, dando assim início as aventuras do arisco e sagaz garotinho de oito anos que precisa se livrar da ameaça de dois ladrões patetas que planejam fazer a limpa na vizinhança. O roteiro do experiente John Hughes possui um dinamismo vivaz e fluído que além de explorar uma série de situações inusitadas e hilárias, consegue conduzir tudo com precisão e leveza, sempre "enfatizando" o essencial do que se quer comunicar (a circulação do protagonista pela casa no início do filme sendo ignorado e desprezado recorrentemente é um exemplo disto). Além do mais, a possibilidade do pequeno MacCallister poder circular por ambientes fora do casarão (sejam as imediações, o supermercado ou à igreja), inibem qualquer resquício de tensão claustrofóbica ou mesmo um clima de solidão que poderia se entrever, deixando os eventos mais leves e descontraídos, como não poderia deixar de ser, em se tratando de um filme mais família. A pegada aventuresca e divertida do enredo ofusca o pano de fundo do que poderia significar uma tragédia familiar traduzida pela situação de abandono involuntário, já que se trata aqui da vulnerabilidade natural de uma criança de oito anos entregue a própria sorte, muito embora, a opulência doméstica e o conforto material acabem facilitando as coisas. Tem-se ainda todo um tratamento picaresco, imbecilizado e trapalhão dos criminosos que estão longe de oferecer qualquer ameaça real (os ladrões não possuem quaisquer tipos de armas, por exemplo) e um investimento especial na criatividade tácita do personagem de Culkin que inventa algumas armadilhas e emboscadas engenhosas, todas muito eficientes e de um efeito cômico ingênuo e cativante.

Cena improvisada pelo talentoso Macaulay Culkin (Kevin)/Twentieth Century Fox

Chama à atenção como o longa de Columbus lança luz sobre certos aspectos de uma "condição infantil" naturalmente desfavorável quando versa sobre o desprezo e a insensibilidade dos adultos que desconsideram necessidades e urgências ou ignoram questionamentos importantes, rotulados, muitas vezes, como formas de carência mimada (Kevin não consegue travar um diálogo tranquilo com nenhum dos MacCallister). "Esqueceram de Mim” também parece superestimar e promover de forma um tanto utópica a instituição familiar de classe média estadunidense, àquela cujo padrão material elevado e a capacidade opulenta de consumo servem como compensações às crises e aos traumas, como sugere o pacto conciliatório e afetivo que o enredo estabelece ao final (a importância da valorização do núcleo familiar é finalmente reconhecida pelo herói). A família numerosa e padronizada do american way of life, apesar de todas as intempéries, conflitos e distrações individuais deve se reconciliar e ratificar sua unidade e harmonia, e isso acontece tanto com Kevin, os pais e irmãos, quanto com o vizinho, o velho senhor Marley (Roberts Blossom) que reata seus laços afetivos com o filho. A tradicional saga de auto superação e amadurecimento do herói individualista e destemido, que resolve seus problemas e dificuldades recorrendo à inteligência e habilidades inatas, clichê dos blockbusters hollywoodianos estão representadas na figura da criança prodígio que consegue se virar sozinha e adiantar-se aos vilões, inspirando-se no exemplo e na atitude dos adultos (o garotinho como o “homem da casa”). O filme ainda conta com uma direção habilidosa e versátil de Chris Columbus que constrói com sobriedade sequencias narrativas irreverentes, melodramáticas e aventurescas, numa linguagem visual fluída e imersiva, e que explora os ambientes e personagens com oportunismo e perspicácia (as cenas iniciais dos preparativos para a viagem são muito bem coreografadas e sincronizadas). A mise en scene perscrutadora capta com eficiência o clima confortável, seguro e abastado no interior da residência (ancorado num design de produção em sintonia com o contexto social da época), além de absorver com êxito a atmosfera festiva e emotiva do Natal (principalmente nos ambientes externos). Acrescenta-se a isto a intuição e o instinto do diretor em conseguir extrair simpatia, meiguice e espontaneidade em gestos que se tornaram icônicos ao novato Macaulay Culkin (novato como protagonista), seja correndo estrambelhadamente com os braços para cima, seja cantando ao se pentear diante do espelho ou gritando inesperadamente com as mãos no rosto (cena improvisada). Já a trilha orquestrada e impecável do mestre John Williams atua na narrativa como um componente complementar fundamental do plano dramático, transitando com perfeição e coerência nas diferentes circunstancias, embalando a história e cativando o público. Vale destacar o ladrão babaca Harry Lime, interpretado com desenvoltura pelo excelente Joe Pesci, mentor intelectual do frustrado assalto, cheio de trejeitos e falas caricatas que lembram vilões de desenhos animados. O comparsa de Harry, Marv Merchants (Daniel Stern) todo excêntrico e atrapalhado, é inevitavelmente um prato cheio para as nossas gargalhadas, tamanha idiotice e ingenuidade reincidente nas armadilhas ardilosas do garotinho (aliás, ambos caem estupidamente nas emboscadas, tendenciosamente elaboradas para divertir o espectador de maneira instantânea). Catherine O'Hara que vive a mãe de Kevin entrega intensidade emotiva e flexibilidade dramática, apresentando-se dura, firme com o filho, mas extremamente perturbada e culpada com seu esquecimento, não medindo esforços para reencontrá-lo. Por último, cabe citar o taciturno senhor Marley, envolto em uma áurea de mistério e de medo (as fofocas locais injustamente arranham a reputação do pobre velho) e que, no entanto, não passa de um sujeito carente, ferido, amargurado, buscando uma reconciliação com o filho e que acontece graças ao incentivo de Kevin (a cena da igreja talvez seja a mais emocionante do filme). “Esqueceram de Mim” marcou toda uma geração, tanto por seu divertido e cativante vigor narrativo , quanto pelo talento carismático e travesso de seu inesquecível herói mirim.


Por: Ábine Fernando Silva

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