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  • Foto do escritorÁbine Fernando Silva

Furiosa: Uma Saga Mad Max (2024) – Impressões

Direção: George Miller

Roteiro: George Miller e Nico Lathouris

Elenco principal: Chris Hemsworth, Anya Taylor-Joy, Tom Burke, Lachy Hulme, Charlee Fraser

"Furiosa: Uma Saga Mad Max” de George Miller se debruça sobre a gênese da personagem Furiosa (Anya Taylor-Joy), abordando sua jornada de transformações e ascensão guerreira a partir, novamente, do mote da vingança. O prequel de “A Estrada da Fúria” ao assumir abertamente a perspectiva da heroína e perseguir um tom até mais dramático e cerimonioso para forjar a construção de sua essência implacável e destemida, acaba, num primeiro momento, arrefecendo um pouco o ritmo dos acontecimentos e os estímulos intensos da ação, apostando numa imersão contida e profusa na semiótica daquela realidade bárbara e pós-apocalíptica, sobretudo, do ponto de vista das dinâmicas de sobrevivência, das disputas pelo poder e da representação do carismático vilão Dementus (Chris Hemsworth) e de sua horda motorizada. Miller sempre soube utilizar com perspicácia ao longo da franquia, toda a potência alegórica e simbólica que constrói visualmente a identidade do universo “mad max” como fortes elementos expressivos que superdimensionam a superfície de uma trama simples, normalmente devotada à adrenalina das perseguições e combates estrada a fora. Aqui isso até acontece de novo, de forma criativa e abrangente, no entanto, essa pegada rítmica mais parcimoniosa nos dois primeiros capítulos da obra, associada a uma escolha estética um tanto insistente na utilização dos recursos de CGI atrapalham um pouco a experiência do espectador que percebe claramente o artificialismo em certas composições cenográficas e dificilmente se conecta àquela atmosfera surrealista meio pasteurizada do deserto, além de sentir o impacto da ausência de algo substancialmente novo e instigante no que diz respeito à construção dramática desse ethos da Furiosa. Por outro lado, a meu ver, a trama acaba evidenciando demais o protagonismo em torno de um vilão rico em nuances, já que o texto de Miller e de Nico Lathouris faz coexistir ali numa mesma persona a astúcia estratégica, a crueldade sádica, a sensibilidade imatura, a ambição imperialista e uma caricata desenvoltura cômica. Até a reflexão mais filosófica do conceito de “vingança” que desconstrói a acepção clássica e rejeita uma escolha previsível para o acerto de contas final perpassa a construção dessa personalidade complexa e difusa do personagem vivido por Hemsworth. É possível, inclusive, traçar algum paralelo entre o grande antagonista de Furiosa no filme e certas lideranças neofascistas ou populistas extra ficção, lançando luz sobre a inspiração dos roteiristas que utilizam muito bem a presença fascinante de Dementus para seus propósitos dramáticos. Além disso, “Furiosa: Uma Saga Mad Max” parece absorver para si toda essa tensão bélica atual, justificando através do seu próprio contexto pós-apocalíptico, uma inclinação autodestrutiva natural da humanidade, sustentando a ideia de que a história das civilizações jamais passou ilesa pelo crivo constante das guerras e da imposição violenta do mais forte sobre o mais fraco. Como as incursões do enredo que forjam o arco da heroína abdicam daquela proposta frenética e ininterrupta do filme de 2015, a sensação que fica, especialmente para aqueles mais íntimos à saga é que o prequel do diretor australiano só consegue “encorpar-se” de fato a partir do capítulo três (O Clandestino), aonde Taylor-Joy finalmente entra em cena e uma criatividade inventiva para a ação é retomada, produzindo saltos cada vez mais empolgantes. É justamente nesse momento que o velho Miller insurge em grande estilo, conferindo contornos épicos surpreendentes ao seu universo ao encenar de forma grandiloquente e intensa essas perseguições e confrontos automobilísticos que se inserem na lógica da vingança da protagonista, e também nas dinâmicas da ameaça de Dementus à soberania tirânica do governo de Imortae Joe (Lachy Hulme). O esmero estilístico nas cenas de ação que retratam a “máquina de guerra” a caminho de “Vila Gasolina”, o confronto na “Fazenda da Bala” e a perseguição final em “Além da Vingança” ostentam àquela instigante obsessão da franquia por um tipo de adrenalina que envolve dramaticamente os personagens, estabelecendo um vínculo empático com o espectador. Nesse sentido, decupagem e montagem se articulam privilegiando o espetáculo coreográfico das batalhas, repleta de novos obstáculos acrobáticos, captando, nesse processo, todo frenesi das emoções através da movimentação plástica da câmera e da recorrente utilização dos closes. Embora "Furiosa: Uma Saga Mad Max" não ostente àquele brio impetuoso e empolgante de "Mad Max: Estrada da Fúria", só a audácia criativa de Miller, explorando sob prismas mais épicos e dramáticos esse universo tão potente da saga, já merece toda nossa reverência.


Nota: 7,5 / 10

 

Por: Ábine Fernando Silva

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