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  • Foto do escritorÁbine Fernando Silva

Guerra Civil (2024)/Impressões

Atualizado: 15 de mai.

Direção: Alex Garland

Roteiro: Alex Garland

Elenco principal: Wagner Moura, Kirsten Dunst, Cailee Spaeny, Jesse Plemons, Nick Offerman, Stephen Henderson

“Guerra Civil” de Alex Garland apresenta, no contexto de uma distopia possível, um conflito civil armado que atravessa praticamente todo o território estadunidense, colocando de um lado um governo presidencial em seu terceiro mandato, e do outro, as “Forças Ocidentais” separatistas. Nesse ínterim, um grupo de jornalistas e uma garota aspirante à fotógrafa decidem pegar as estradas rumo à Washington D.C cobrindo os terríveis acontecimentos na tentativa de uma última entrevista com um presidente prestes a ser deposto. A proposta da trama de Garland, ao contrário do que se possa imaginar, prefere rejeitar categoricamente uma dimensão elucidativa sobre a gênese, a natureza política da guerra e seus espectros ideológicos em disputa, inserindo seus personagens no fluxo eletrizante dos eventos, numa intenção, talvez, de evidenciar os impactos dramáticos advindos da ação intensa e violenta, e de algum vínculo mais emocional e afetivo que se estabelece, sobretudo, entre a fotojornalista Lee (Kirsten Dunst) e a jovem fotógrafa amadora Jessie (Cailee Spaeny). Essa insistência em retratar de forma bastante realista e até mesmo épica toda a espetacularização do caos, conecta diretamente “Guerra Civil” à tradição dos blockbuster de ação, permitindo-lhe, por um lado, o apelo popular que o seu próprio drama frágil não conseguiria sustentar por si só, uma vez que as motivações e dilemas dos personagens soam um tanto rasos e pouco convincentes, ainda que se tente justificar tais intentos por uma lógica de um “vício em adrenalina” ou mesmo, por uma espécie de “atração mórbida” inerente àquele ofício. Ora, essa ideia meio difusa e rasa que orbita o imaginário do jornalismo, atribuindo-lhe uma pretensa posição de “neutralidade” diante dos fenômenos sociais tenta ganhar forma no filme à medida que a esses profissionais lhe são permitidos sem muitas restrições e questionamentos a participação direta em várias situações concretas do conflito, independente do lado, o que me parece até uma premissa ideológica do roteiro que visa celebrar a relevância de uma imprensa imparcial e que estaria “além do bem e do mal”. Acredito que é justamente nesse ponto que Garland “escorrega” ao deixar seus protagonistas à margem de quaisquer influências, reflexões e ponderações políticas daquele universo (o espectador mal consegue situar quem é quem nesse contexto), como se as narrativas (texto ou imagem) depois criadas por aquele grupo pudessem dar conta de uma “verdade absoluta”. A intenção do filme parece ser mesmo enfatizar mais a experiência desumanizadora e irracional da guerra que, inclusive, afetara a calejada Lee, mas que agora afeta a jovem Jessie, cujo resquício de alguma inocência vai gradativamente se apagando diante de uma obsessão e de um desejo impulsivo em captar por meio de seus oportunos flashs momentos tão brutais e devastadores daquele cenário. Como a trama acha que pode representar a guerra por essa perspectiva ingênua do “distanciamento”, deslegitimando assim quaisquer que sejam os motivos e ideais em jogo, tudo tende a evocar o absurdo ou o insano através da grandiloquência em que se encena a violência e que se revela uma sociedade consumida pela barbárie e pelo ódio dos seus próprios interesses, justificando àquele final sarcástico e remetendo, sem toda a profusão crítica e poética ao “Apocalipse Now” de Coppola. Se deixarmos de lado certas motivações inconsistentes dos personagens, mas que, por outro lado, fazem as coisas avançarem, além, é claro desse pressuposto que os isenta das implicações político-sociais que engendram o confronto civil, só nos resta mesmo uma série de episódios ou sequências de ação ultrarrealistas e estilizadas, cuja direção impecável de Garland aufere uma atmosfera intensa de tensão e perigo. Nesse sentido, a decupagem da obra assume uma tonalidade bastante documental e dinâmica, criando, inclusive, relações bem interessantes de metalinguagem com as fotografias tiradas por Lee e Jessie, assim como o design de som superdimensiona e reverbera o impacto dramático da violência, abordada da forma mais crua e banal, emulando em certo sentido, uma transmissão jornalística “ao vivo”. “Guerra Civil” de Alex Garland, mais ou menos na esteira do “Oppenheimer” de Nolan, parece sucumbir mesmo a essa espetacularização genérica do blockbuster, perdendo uma chance de ouro ao rejeitar um tratamento mais crítico das questões políticas e sociais num tipo de enredo que parece “gritar” por esses pressupostos.

 

Nota: 6 / 10

 

Por: Ábine Fernando Silva

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