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Foto do escritorÁbine Fernando Silva

King Kong (1933)

Direção: Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack

Roteiro: James Creelman e Ruth Rose

Elenco principal: Fay Wray, Robert Armstrong, Bruce Cabot, Frank Reicher, Noble Johnson.

Disponível: HBO MAX

Cena icônica de King Kong no Empire State

Um marco para a História do Cinema de entretenimento e uma das obras mais icônicas sobre monstros gigantes, “King Kong” se insere numa tradição de filmes cujo apelo estético se rende quase que exclusivamente ao conceito do grande espetáculo visual, impulsionando, já no pleno fôlego do desabrochar da sétima arte, uma espécie de relação que se tornaria cada vez mais íntima e natural entre a avidez das massas em consumir as novidades mirabolantes das telas e o esforço criativo com fins mercadológicos dos realizadores, sempre dispostos a impressionar com seus projetos ousados e inventivos. A relevância cultural e cinematográfica do trabalho de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack tornou-se incomensurável ao longo do tempo e a imortalização do gorila gigante no imaginário popular adquiriu uma potência arquetípica reverberante, convertido em ativos rentáveis ao longo do tempo através do high concept. Após convencer Englehorn (Carl Denham Frank Reicher), o velho capitão de um navio e Ann Darrow (Fay Wray), uma jovem aspirante à atriz, o ambicioso cineasta Carl Denham (Frank Reicher) parte em expedição rumo à misteriosa Ilha da Caveira, elo remanescente de incríveis criaturas pré-históricas, cujos nativos prestam culto a um gorila gigante. Disposto a rodar um filme no local, Denham vê seus planos frustrados devido ao conflito com a tribo local e o rapto de Ann, oferecida como sacrifício ao enorme monstro. Desta forma, uma equipe de exploradores liderada pelo marinheiro e namorado da loira Jack Driscoll (Bruce Cabot) enfrenta diversos perigos na selva até resgatá-la do esconderijo de Kong que por sua vez acaba capturado com a ajuda dos nativos e levado a Nova York para ser exposto como espetáculo exótico. Como era de se esperar, as coisas acabam saindo do controle e o gorila colossal toma as ruas da metrópole espalhando pânico e destruição. Depois de quase noventa anos de lançamento, a primeira versão de “King Kong” tende a evocar no espectador contemporâneo um misto de curiosidade nostálgica e graça pelos rudimentos datados da magia do cinema com algum estranho incômodo anacrônico advindo, em grande medida, de certos elementos superficiais da sua dramaturgia. Ao considerar isso, exclui-se o juízo de valor ingênuo, muitas vezes corriqueiro no senso comum e que mede a relevância universal ou a qualidade de um filme por meio de uma régua temporal. O compromisso da produção da RKO com o entretenimento, seu apreço apaixonado e megalômano pelo terror épico, pela fantasia dos efeitos artesanais e do stop motion, além da promoção espetacular e romântica da relação entre o gorila gigante e a bela e resistente Ann ditam o tom de uma obra cuja dinâmica dramática do texto, por outro lado, opera numa série de incoerências e estereotipações, afetando, ainda que não de forma substancial sua proposta camp (ingênua e fantasiosa) como um todo. Deixando as imperfeições a parte, James Creelm e Ruth Rose sugerem em sua trama uma reflexão que se tornou inerente ao DNA da ficção científica e do terror ao longo do tempo, tanto na literatura quanto no cinema e que versa sobre as consequências catastróficas das ambições e ganâncias humanas individuais quando se voltam para a exploração e para o uso indiscriminado e antiético da natureza em benefício próprio.

Kong se afeiçoa Ann Darrow (Fay Wray) em King Kong (1933)

Ora, o movimento inescrupuloso de Denham em nome da fama e da fortuna produz suas consequências nefastas para a coletividade “civilizada”, esta por sua vez, também responsável por patrocinar um gesto cruel e irracional que arrancou a força de seu habitat natural uma criatura selvagem e colossal, transformando-a em peça de exposição pública (oitava maravilha do mundo) bem no coração de Nova York. “King Kong” celebra em tom épico, aventuresco e até descompromissado a estupidez, a extravagância e a desumanidade do homem civilizado, inclinado a transgredir os limites, a deslumbrar-se com seus próprios feitos e finalmente a sacrificar covardemente o milagre pré-histórico ao qual não lhe cabia incomodar e controlar. Não é atoa que a obra se esforça para conferir empatia, carisma e sentimento às expressões de Kong no trato com a aterrorizada Darrow, sobressaindo-se aos próprios personagens humanos, o que torna sua ameaça e violência mais do que justificadas. Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack apostam suas fichas nos efeitos do espetáculo visual e grandiloquente, explorando numa decupagem de planos abertos e panorâmicas, os cenários engenhosamente construídos e a ação titânica dos monstros que ganha vida por meio das técnicas de stop motion, cuja cereja do bolo é garantida nas icônicas sequências finais do enfrentamento do Kong no topo do Empire State. Os realizadores não se restringiram apenas ao elemento épico da aventura e do terror, potencializados no dinamismo da montagem e na trilha frenética e intensa, pelo contrário, o esforço em captar por meio de closes sugestivos reações e sentimentos, especialmente, no que se refere ao enorme gorila na sua afeição pela amedrontada personagem de Fay Wray, acaba emprestando ao filme um discreto traço lírico e romântico, embora a relação “bela e fera” soe um tanto ambígua e bizarra. “King Kong” de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack tornou-se um clássico absoluto no universo do cinema dos monstros gigantes e referência nos primórdios dos efeitos especiais, inspirando gerações e gerações da cultura de massas comprometida com a diversão rentável e com a fantasia do espetáculo.


Por: Ábine Fernando Silva

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