Direção: Osgood Perkins
Roteiro: Osgood Perkins
Elenco principal: Nicolas Cage, Maika Monroe, Alicia Witt, Blair Underwood, Dakota Daulby, Michelle Choi-Lee.
“Longlegs – Vínculo Mortal” de Osgood Perkins acompanha a jovem agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe) que se junta às investigações sobre uma série de assassinatos familiares, motivados por um sujeito bizarro que se identifica como Longlegs (Nicolas Cage). Á medida que a sensitiva investigadora vai desvendando meticulosamente as pistas deixadas pelo maníaco, uma inesperada conexão entre ambos se revela, lançando Harker numa luta contra forças sobrenaturais inimagináveis. Talvez o maior trunfo da obra de Perkins resida numa articulação originalmente orquestrada entre diversos elementos expressivos do “triller policial” de um lado e certas tradições do “terror”, do outro. Ora, é praticamente um imperativo da indústria hollywoodiana no momento (muitas vezes genérico e sem imaginação) “nadar de braçada” na onda de fracos “remakes” e de tentativas frustradas de ressuscitar franquias, conferindo-lhes um ar mais “moderno”. Ainda que tais motivações encontre certo respaldo na própria condição “sui generis” da arte em seu movimento auto referencial e metalinguístico, o que se privilegia, a meu ver, é muito mais o viés mercadológico das produções, cujo escopo criativo sucumbe a um forjado apelo nostálgico de “fan service”. Perkins na contramão de uma mera explicitação referencial e desconstrução de gênero, por mais que em essência esteja fazendo justamente isso, parece propor, tanto no âmbito da forma, quanto do conteúdo, uma espécie de “releitura” mais abrangente e robusta do “suspense policial”, no sentido de distendê-lo, congregando em sua narrativa uma pegada “tarantinesca” que absorve um caleidoscópio de influências. A impressão que se tem, ao longo do filme, é de um “redimensionamento” e de uma “recombinação” bastante própria de uma série de elementos dessa tradição cinematográfica do “thriller” e do “terror”, desdobrados numa linguagem familiarmente tensa e sombria, que açambarca, inclusive, os arquétipos do “detetive” e do “psicopata”, enriquecendo em camadas os personagens de Monroe e Cage. Essa auto consciência no uso e na disposição das referências em “Longlegs – Vínculo Mortal” comunicam não apenas a verve “antropofágica” do diretor, como também sua versatilidade no domínio das dinâmicas de um cinema sombrio, uma vez que se recorre a uma encenação mais estilizada e a certos experimentalismos, sobretudo, em algumas escolhas de decupagem, na manipulação tanto da textura das imagens, quanto do foco das lentes e da iluminação na fotografia, no uso bem orquestrado da montagem e de um design de som macabro, além do trabalho bem intenso na composição performática dos personagens mais centrais. Muito embora o filme de Perkins lance mão dessa estilística hipnotizante e ao mesmo tempo “morbidamente sufocante”, certos rumos que a trama toma ainda me soam pouco inspirados ou ancorados em clichês meio convenientes, como essa solução bastante célere da investigação de Harker em torno do Longlegs e essa auto explicação quase didática, ao final, do estratagema do vilão satânico e suas implicações sobrenaturais. Decepciona um pouco esse desfecho desnecessariamente “mastigado”, diminuindo, mas não comprometendo, àquela boa impressão de uma obra que costura com maestria o thriller policial ao terror das possessões e dos bonecos demoníacos. Parece que o enredo ao aproveitar esse contexto histórico cultural do “pânico satânico”, bastante em voga no ocidente durante os anos 80 e 90, acaba rejeitando sua própria lógica realista de histeria conservadora e assumindo de uma forma até sarcástica e impiedosa o elemento fantástico do fenômeno social. A perversidade brutal e hedionda da tragédia, fruto do feitiço satânico engendrado pelo personagem de Cage encontra vazão em sua revolta e fúria bastante direcionada contra o modelo supostamente padrão e exemplar de família da época, abalando e confundindo os alicerces morais daquela sociedade, sobretudo, através da utilização dos próprios símbolos cristãos encarnados na figura da freira vivida por Alicia Witt. No fim das contas, o bem o e mal se tornam claramente definidos e a figura da taciturna agente Harker adquire uma áurea ainda mais sagrada e redentora.
Nota: 8 / 10
Por: Ábine Fernando Silva
Comments