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Foto do escritorÁbine Fernando Silva

Mad Max (1979)

Atualizado: 1 de jun.

Direção: George Miller

Roteiro: George Miller e James McCausland

Elenco principal: Mel Gibson, Joanne Samuel, David Bracks, Steve Bisley, Tim Burns, Mathew Constantine, Roger Ward, Hugh Keays-Byrne, Vincent Gil.

Mel Gibson (Max) em Mad Max (1979) de George Miller

"Mad Max" é o primeiro filme da franquia de ação distópica mais empolgante e original da História do Cinema, inaugurando um universo mítico pós-apocalíptico concentrado na potência automobilística e na velocidade. Miller articula aqui uma narrativa ousada e visualmente provocativa que aproveita o elemento da “vingança” para transmitir toda a adrenalina da jornada do renegado e emocionalmente destruído Max (Mel Gibson) que com seu V8 Interceptor e sem mais nada a perder, rasga as estradas desérticas australianas caçando um por um os motociclistas psicóticos que assassinaram sua família. Num futuro decadente e socialmente caótico, uma escassa força policial precisa lidar com uma gangue de motoqueiros que promovem um verdadeiro terror nas estradas. Após a morte do Cavaleiro da Noite (Vincent Gil), inicia-se a represália dos insanos delinquentes contra a débil força policial, culminando na tentativa de assassinato do patrulheiro Jim Goose (Steve Bisley) que tem seu corpo totalmente carbonizado depois de uma emboscada covarde a caminho da central. Max, o mais jovem e talentoso patrulheiro sob o comando do Capitão Fifi (Roger Ward), cansado da violência da profissão e traumatizado com o que ocorrera ao amigo Goose, resolve afastar-se do trabalho e estar mais próximo da esposa Jessie (Joanne Samuel) e do pequeno filho. Ao sair de férias com a família pelas perigosas estradas, o personagem de Gibson acaba cruzando com a sádica horda de comparsas do Cavaleiro da Noite que num momento oportuno, perseguem e atropelam a esposa e o bebe do pobre rapaz, lançando-o inevitavelmente numa caçada furiosa e implacável contra Toecutter (Hugh Keays-Byrne) e sua famigerada gangue. George Miller concebe seu futuro distópico em “Mad Max” explorando a falência do burocrático sistema de justiça, a precariedade de recursos e a inaptidão de uma polícia patética que mal consegue administrar a turbulência de sua realidade hostil e violenta, marcada pela anarquia de grupos criminosos inconsequentes. Sugere-se que a “patrulha” seja uma instituição independente do Estado, talvez de caráter privado e meio falida, cujos membros não se mostram aptos psicologicamente e equipados a altura para o enfrentamento das terríveis ameaças das ruas. Embora o enredo do filme se interesse em especial pela ação alucinante das perseguições automobilísticas (a introdução do filme e o último ato são contundentes neste sentido), o roteiro concentra suas atenções nos personagens, suas caracterizações estereotipadas e histriônicas, tanto no que diz respeito aos patrulheiros, o introspectivo Max é um ponto de inflexão, quanto no que se referem aos desequilibrados motoqueiros. Por este lado, a representação vilanesca da gangue, seu aspecto impulsivo, de gestos expansivos, infantilizados e imorais lembram, guardadas as devidas proporções estéticas, os drugs da “Laranja Mecânica, 1971,” de Kubrick, prevalecendo uma espécie de humor macabro e um comportamento baderneiro e sádico que desestabilizam ambientes e pessoas. Já em relação à trama, Miller de forma oportuna, estrutura um cenário polarizado de fundo, colocando os representantes da lei de um lado e os criminosos de outro, ainda que a rotina violenta das estradas opere de forma indistinta sobre o psicológico de ambos, levando o expectador a crer que esta guerra entre lados opostos ditariam os rumos narrativos, utilizando primeiro o mote da vingança de Toecutter e seus selvagens comparsas, depois, à medida que o arco do protagonista acena para um desvio das consequências deste mote (Max não deseja sucumbir mentalmente), novamente o roteiro trata de inverter a vingança, agora do herói abnegado e ensandecido pela morte da mulher e do filho, e que individualmente tratará de aniquilar seus inimigos.

Max (Mel Gibson) e seu icônico V8 Interceptor

A direção de “Mad Max” constrói uma atmosfera decadente e sórdida com uma cinematografia que estiliza ambientes minimalistas, sujos e pobres, aproveitando a estética do “futuro usado” da cenografia e do figurino punk, surrado e subversivo da gangue, por exemplo, para construir uma identidade visual bastante original para o filme e que se tornaria um elemento cada vez mais desenvolvido nos projetos posteriores e marca inconfundível da franquia. A ação das perseguições são espetaculares e realizadas com um empenho realístico singular (corridas, batidas, capotamentos e explosões), chamando a atenção o dinamismo narrativo que o cineasta australiano imprime às cenas, cheias de adrenalina, cujos planos mais contínuos e com poucos cortes, alternam os momentos críticos dos confrontos em alta velocidade e a dramaticidade das expressões e reações dos personagens. Por falar nisto, o interesse em captar a teatralidade das atuações, muitas vezes, enérgicas e caricatas, potencializam o clima de instabilidade e insanidade que permeia o universo da trama que embora extremamente violenta, opta por sugerir o fenômeno, não apelando para seu aspecto gráfico, mas ressaltando sua natureza perversa e perturbadora. Soma-se a isto, articulação da trilha composta por Brian May (não se trata do guitarrista do Queen), orquestrada, sinistra e apreensiva, encaixada estrategicamente às sequencias narrativas de maior suspense e tensão. “Mad Max” ainda conta com um elenco empenhado em dar vida a personalidades tão curiosas, carismáticas e icônicas, entre elas, Capitão Fifi, interpretado com altivez bonachona por Roger Ward, o simpático fanfarrão Jim Goose, vivido por Steve Bisley, o vilão temperamental e cruel Toecutter encarnado por Hugh Keays-Byrne e finalmente Max, o bom moço que enlouquece, numa performance contida e intimamente turbulenta do jovem Mel Gibson. Como ponta pé inicial de uma franquia que consagrou o alcance artístico e estilístico de George Miller, “Mad Max” pulsa a criatividade narrativa que ensejou as produções posteriores, cada vez mais perfeccionistas e ambiciosas. É como se a tônica deste excelente trabalho possuísse a semente de um vigor e um preciosismo cultivado por seu criador ao longo das sequências seguintes e plenamente aflorado trinta e cinco anos depois com o lançamento de “Mad Max – A Estrada da Fúria” em 2015.


Por: Ábine Fernando Silva

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