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  • Foto do escritorÁbine Fernando Silva

Mad Max II – A Caçada Continua (1981)

Atualizado: 1 de jun.

Direção: George Miller

Roteiro: George Miller, Terry Hayes e Brian Hannant

Elenco principal: Mel Gibson, Bruce Spence, Michael Preston, Max Phipps, Vernon Wells, Kjell Nilsson, Emil Minty.

Kjell Nilsson (Humungus), Mel Gibson (Max) e Bruce Spence (Capitão Gyro)

Mad Max II - A Caçada Continua é o segundo filme do australiano George Miller que compõe a trilogia de ação distópica e automobilística mais venerada da História do Cinema. Do ponto de vista narrativo, tudo aqui acaba se tornando mais ambicioso, intenso e sombrio se comparado ao projeto anterior, sobretudo, a dimensão mítica atribuída a figura de Max como o ".guerreiro das estradas". Num futuro pós-apocalíptico, devastado pela guerra nuclear, a gasolina passou a ser a forma de energia mais cobiçada por agrupamentos humanos e ameaçadoras gangues motorizadas. Neste contexto, Max (Mel Gibson), seu cão e seu V8 Interceptor cortam as estradas em busca de algumas frações do escasso produto, confrontando-se com Gyro (Bruce Spence), o excêntrico piloto de um minicóptero que se torna prisioneiro do herói. Em troca da liberdade, o Gyro conduz o protagonista até um pequeno vilarejo fortificado que produz o valioso combustível, local constantemente atacado pela gangue sanguinária de Humungus (Kjell Nilsson). Ao decidir ajudar os bravos moradores do vilarejo em troca de gasolina, o guerreiro das estradas perde seu fiel companheiro canino e acaba quase morto pelos sádicos de Humungus, o que o impulsiona a envolver-se nos planos de fuga de Pappagallo (Michael Preston) e sua comunidade, aceitando a perigosa missão de dirigir um grande caminhão teoricamente carregado com a preciosa substância. Uma batalha eletrizante pela sobrevivência se inicia nas estradas e mais uma vez, o renegado Max não tem nada a perder. O roteiro da tríade George Miller, Terry Hayes e Brian Hannant busca numa primeiro momento, contextualizar o futuro em que Max está inserido, justificando os eventos da narrativa anterior e depois lançando as bases do universo da trama atual: a catástrofe global advinda da guerra nuclear, os agrupamentos humanos remanescentes na luta pela sobrevivência com a derrocada da civilização e a disputa pelo combustível (gasolina), sinônimo de poder, fonte de energia e manutenção da vida. Neste segundo longa, é forjada a lenda em torno do protagonista, o guerreiro das estradas, o forasteiro enigmático e atormentado pelos fantasmas do passado, “convicto” em seu individualismo frio e na própria solidão como recurso de sobrevivência. Outras figuras icônicas e marcantes também constroem a identidade singular do enredo, tanto entre os vilões quanto entre os “mocinhos”, entre elas o narrador-personagem Garoto-Fera (Emil Minty), o furioso Gay-Boy (Vernon Wells), o astuto Gyro, o cruel Humungus e porque não o inteligente cão de Max. Destaca-se aqui o comportamento anárquico, animalesco e sadomasoquista da gangue motorizada, disposta a intimidar e a aterrorizar o vilarejo da gasolina, resquício civilizatório que busca resistir bravamente. “Mad Max II – A Caçada Continua” antevê um futuro desolador e violento, cuja ruína institucional e social significou o predomínio da força das armas e a prevalência da lei do mais forte, lançando inevitavelmente os seres humanos numa espécie de dependência gregária imprescindível, o que no caso da gangue de saqueadores adquire ares de "fanatismo personalista", antítese do comportamento solitário e arredio do herói.

Gay-Boy (Vernon Wells) e seu companheiro integram a gangue de Humungus

Por outro lado, embora o personagem de Mel Gibson sustente a pose individualista e indiferente evitando o envolvimento pessoal com os membros do vilarejo defendido por Pappagallo, uma afeição sutil, espécie de laço paterno o une ao garotinho selvagem, além disso, o senso de justiça e a sede de vingança, sentimentos inerentes ao ex-patrulheiro, colocam-no de vez na briga contra os cruéis vilões, garantindo a ação frenética da perseguição automobilística praticamente em todo terceiro ato do filme. A cinematografia de Miller explora os personagens (retratados com certa imponência decrépita) e os espaços, evidenciando um universo arruinado, caótico e hostil, mas que ainda resiste na tentativa de preservar "resquícios" do que sobrou da humanidade e da civilização. O realismo estilizado da fotografia em tons sépios sugestivos retrata de forma épica toda magnitude desértica pós-apocalíptica, o drama da vida frente a condições hostis e a violência anárquica do grupo de Humungus que assedia insistentemente e encurrala os bravos habitantes da vila produtora de gasolina. Além disso, o design de produção original aproveita muito bem a estética do “futuro usado”, remodelando e resignificando objetos tanto nos figurinos quanto nos cenários (as tralhas e parafernálias antigas e enferrujadas compõem os espaços, conferindo àquela realidade a aparência de ferro velho). O filme aposta na ação frenética da perseguição, realizada com dublês e sem recursos de computação gráfica, estabelecendo um ritmo narrativo coeso e intenso com muita adrenalina, numa montagem ágil e bastante nítida dos acontecimentos embalados por uma trilha sonora que empolga e emociona. O carisma um tanto bizarro dos personagens é outro elemento que chama a atenção em “Mad Max II – A Caçada Continua” e a produção de Byron Kennedy caprichou ao escolher um elenco que encarna com muita presença figuras tão fortes e icônicas, para além do solitário e taciturno Max, vivido por Mel Gibson, astro e figura indissociável da franquia. Impossível não simpatizar com a espontaneidade expressiva do primitivo garotinho vivido por Emil Minty que muito embora se comporte de maneira selvagem, com uma comunicação verbal precária, manifesta uma humanidade singular através da afeição sincera e admiração ao protagonista. Bruce Spence empresta um ar cômico e desengonçado a Capitão Gyro, o piloto de minicóptero oportunista, mas de coração bom. Kjell Nilsson imprime implacabilidade e presença ameaçadora na pele do bombado sádico Humungus, cuja aparência física mescla um pouco de Jason Voorhees e Conan, O Bárbaro. Vernon Wells está intenso, caricato e desvairado como Gay-Boy, o soldado fiel, submisso e masoquista do líder musculoso. “Mad Max II – A Caçada Continua” ostentou por muito tempo e com razão o mérito de melhor filme da saga de George Miller, episódio que estabeleceu de vez as bases míticas da distopia pós-apocalíptica em que Max está inserido, oferecendo uma experiência de ação automobilística criativa e vibrante, superada talvez, em “Mad Max – A Estrada da Fúria, 2015”.


Por: Ábine Fernando Silva

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