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  • Foto do escritorÁbine Fernando Silva

Oppenheimer (2023)/Impressões

Atualizado: 19 de abr.

Direção: Christopher Nolan

Roteiro: Christopher Nolan

Elenco principal: Cillian Murphy, Robert Downey Jr., Florence Pugh, Emily Blunt, Matt Damon.

Disponível: Prime Video

“Oppenheimer” de Christopher Nolan persegue a partir da elaboração de depoimentos e de relatos rememorativos, a reconstituição de certas nuances biográficas da vida do físico teórico Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), sobretudo, seu protagonismo na concretização do “Projeto Manhattan”, iniciativa ultrassecreta do governo dos Estados Unidos que culminaram na produção das bombas atômicas lançadas em 6 e 9 agosto de 1945 sobre Hiroshima e Nagasaki. A dinâmica um tanto entusiasmada que Nolan imprime a sua narrativa lançando mão, especialmente, de uma montagem descontínua e frenética tende a criar muito mais, a princípio, uma sensação de “sobrecarga” de informações que depois sucumbe a certas exposições óbvias do que essencialmente “aprofundar” e “complexizar” momentos e escolhas importantes da jornada do protagonista. Ironicamente, parece haver pouco espaço para uma problematização mais séria e realista do próprio personagem, uma vez que a figura da excepcionalidade do gênio sempre se impõe, reeditando aqui essa tradição já bastante batida e caricata nas biografias hollywoodianas, centrada na celebração e promoção do mito individual, muito embora, consideremos a tentativa pouco convincente do roteiro em contrabalancear tal “deslumbre” abordando certa perplexidade do cientista amargurado pelas consequências nefastas de sua criação. Ora, o depoimento de Oppenheimer, crivado de ponderações e digressões subjetivas sobre as próprias experiências e decisões pregressas nem me parece soar tão honesto assim quando se avalia em perspectiva todo seu empenho e dedicação no famigerado “Projeto Manhattan” que desde o princípio estivera sob escrutínio das artimanhas políticas e das próprias tensões militares do contexto histórico. Certos lampejos de lucidez moral que o personagem tenta comunicar, inclusive, adotando uma posição pacifista e desaconselhando a produção da bomba de hidrogênio são praticamente “ofuscadas” pela robustez de certas escolhas de representação que envolve grande parte dos acontecimentos num fluxo otimista e a figura do físico num “brilhantismo” intelectual bastante condescendente. Essa abordagem enaltecedora do gênio, acompanhada por uma promoção até ingênua do “fazer científico” é percebida pelo tom dinâmico e propositivo da narrativa, disposta numa mise-en-scene impecavelmente detalhista e caprichosa, numa trilha continuamente eloquente, na performance toda maneirista e pomposa de Cillian Murphy e também numa série de falas e diálogos recheados de “frases de efeito”, comprometendo de maneira considerável uma suposta intenção “realista” e “dramática” da obra. Nolan não esconde seu fascínio conveniente por um “cientificismo” romantizado, já que quase tudo em “Oppenheimer” aparece travestido de uma áurea “grandiloquente” e quase “sobre humana”. Nesse sentido, o drama da culpa e do arrependimento cede lugar a um “remorso” meio resiliente e até mesmo a um “coitadismo”, como se o “herói” aqui não passasse de um joguete nas mãos dos poderosos, dado que suas altas capacidades, espécie de presunção “prometeica” evocada logo na introdução do filme, naturalmente o distanciaria de uma postura mais ética e responsável sobre sua própria atividade. Prevalece a pecha alienada do sujeito teórico e nem mesmo seu posicionamento contrário ao fascismo ou suas conexões pessoais com o comunismo acabam pondo verdadeiramente em xeque a confiança do governo americano em seu patriotismo e filiação ideológica, haja vista que a trama tende a se render a tese vitimista de Oppie pela ótica do ego ferido e da vingança pessoal do almirante Strauss (Robert Downey Jr.). Num contexto histórico e político atual de crescentes tensões militares, o “Oppenheimer” de Christopher Nolan soa mais como exercício presunçoso das potencialidades da máquina de guerra estadunidense (tempos difíceis, requer escolhas difíceis) do que reflexão humanizadora acerca dos limites ético-morais do fazer científico.

 

Nota: 6 / 10

 

Por: Ábine Fernando Silva

 

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