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  • Foto do escritorÁbine Fernando Silva

The Witness (2018)

Atualizado: 30 de mai. de 2022

Direção: Jo-Kyu-jang

Roteiro: Lee Young-jong

Elenco principal: Sang-Hoon (Lee Sung-min), Jae-Yeob (Kim Sang-ho), Soo-jin (Jin Kyung), Tae-ho (Kwak Si-yang).

Lee Sung-min interpreta Sang-Hoon no filme de Jo Kyu-jang

Suspense construído em torno de um dilema moral fruto do testemunho involuntário de um assassinato, "The Witness" suscita reflexões importantes acerca de certa cultura urbana mesquinha e indiferente, recorrendo a alguns plots ardilosos que subvertem as expectativas conduzindo o público ao engano (a la Hitchcock), envolvendo alguns de seus personagens numa atmosfera tragicômica cativante, além de não economizar na ultra violência como marca da implacabilidade do assassino, cuja presença e potencial ameaçador intensificam o terror da trama. A narrativa do longa é muito competente ao desdobrar-se sobre o dilema moral de um indivíduo que acaba presenciando um assassinato brutal e hediondo, explorando de maneira geral, os desdobramentos e consequências sociais da omissão intencional, da covardia, do individualismo indiferente e da culpa, atitudes estas, disfarçadas pretensiosamente de boas intenções e de um senso de proteção familiar. Cautelosamente a trama vai se construindo evidenciando como o alheamento e a indiferença com as desgraças do próximo funcionam como uma espécie de combustível para a perpetração do mal (seja quando o atendente do posto de gasolina percebe que há alguém no porta-malas do carro pedindo por socorro e nada faz, seja o próprio protagonista que ao esconder a verdade acaba entrando em conflito consigo mesmo, sejam os moradores que também presenciaram o crime e preferem se isentar, evitando as possíveis consequências legais e financeiras do fato). O roteiro mais interessado no processo gradual de perturbação pessoal e nos conflitos de consciência de Sang-Hoon (Lee Sung-min) acaba apontando inevitavelmente para a proporção catastrófica e trágica advinda de certa indiferença consentida e condescendência imoral, alargando este conceito de forma indigesta do individual para o coletivo. Desta forma, somam-se situações de omissões que vão levando a mais tragédias e mortes, fazendo com que o protagonista adentre numa espiral de tensão, confusão, medo e perigo. Esquivar-se e esconder-se como se o problema não fosse seu - um assassinato bem enfrente à sacada do seu apartamento - coloca o exemplar chefe de família inevitavelmente no centro das atenções da investigação do inconveniente e cismado detetive Jang-Jae-yeob (Kim Sang-ho) que ao chegar a resultados aparentemente satisfatórios sobre o caso em evidência (a forma como a vítima padecera com o golpe derradeiro do psicopata que retornara a cena do crime e a pista sobre o ex-namorado) não se dá por satisfeito com a explicação banal e óbvia de crime passional. O faro do investigador e sua insistência diletante levam-no a vizinha do acuado patriarca (também testemunha dos gritos e da execução da vítima), e inevitavelmente ao próprio Sang-Hoon que ao tentar "driblar" as investigações, buscando penosamente seguir em frente, acaba novamente "puxado" pelas implicações do trágico evento, sofrendo assim com as intimidações do assassino que paira como uma sombra hostil sobre a sua comunidade e residência (ligações telefônicas, aparições fortuitas e intimidatórias, o sequestro do cachorrinho da família, etc.).

Sang-Hoon tenta proteger sua família do psicopata Tae-Ho

À medida que a narrativa progride Sang-Hoon se vê num verdadeiro "beco sem saída", pois mesmo tentando se afastar de tudo para proteger sua família, deixando claro para o perturbado maníaco que não iria delatá-lo, novamente acaba testemunhando outra morte, agora, da sua própria vizinha que já o havia visitado para que juntos confessassem o que sabiam a polícia. Por outro lado, o texto de Lee Young-jong não se interessa em aprofundar psicologicamente o personagem do serial killer explorando ou justificando seus motivos, ao contrário, resolve envolvê-lo numa áurea sobre humana e onipresente com suas aparições e sumiços repentinos pelas dependências do edifício (até mesmo suscitando a dúvida sobre a possibilidade do sujeito já ter sido morador do local). A direção inspirada no melhor estilo hitchcockiano (a referencia ao clássico “A Janela Indiscreta”, de 1954 torna-se meio óbvia) com suas insinuações, engodos e reviravoltas que alimentam expectativas oferecendo novas surpresas, consegue criar e manipular uma atmosfera de ameaça constante, reforçada pela ambientação do espaço externo invernal, cuja fotografia dessaturada (em tons de cinza e azul) evoca toda frieza e àquela falsa sensação de tranquilidade e de solidariedade comunitária, da mesma forma que os ambientes domésticos fechados suscitam insegurança e vulnerabilidade. As atuações propositalmente “caricatas” emprestam certa leveza à temática da trama, assim como suavizam a estilização violenta e repulsiva do terror goore nas cenas protagonizadas por Tae-ho, um psicopata frio, impulsivo e sádico. Destaque para a construção e o desenvolvimento dos personagens principais, sobretudo, o inspetor Jang-Jae-yeob, interpretado por Kim Sang-ho com seu carisma desleixado e seu instinto impertinente, além é claro de Sang-Hoon, vivido por Lee Sung-min que comunica bem aquele ar de “chefe de família” dedicado, exemplar e responsável cujo inusitado transformara a existência num inferno, transitando pela paranoia, desespero e medo até finalmente encontrar forças para o enfrentamento do mal. "The Witness” capricha no plot final com seu clímax frenético e imprevisível apostando numa caçada às avessas, transformando de vez o pacato pai de família em um homem cheio de fúria e revolta, impelido pelo ímpeto incontrolável em destruir de uma vez por todas Tae-ho. O desfecho vingativo do improvável herói, superando a ameaça que tirou seu sono e que quase acabou com sua família vem acompanhado da chocante revelação de um local de desovas de corpos de outras vítimas insuspeitas do serial killer (após um deslizamento de terra). A certeza de que a banalidade do mal habita bem debaixo do verniz de civilidade suburbana parece justificar não só os bárbaros e inexplicáveis atos do vilão (o próprio diabo na visão do colérico Sang-Hoon) como também denuncia certa conduta comunitária indiferente, desumana e intencionalmente cega e surda para àquilo que não lhe é vantajoso, espelhando de forma aterradora e macabra psicopata e os exemplares "cidadãos de bem" da vizinhança.


Por: Ábine Fernando Silva



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