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Foto do escritorÁbine Fernando Silva

Uma Noite de Aventuras (1987)

Atualizado: 21 de abr.

Direção: Chris Columbus

Roteiro: David Simkins

Elenco principal: Elisabeth Shue (Chris Parker), Maia Brewton (Sara Anderson), Keith Coogan (Brad Anderson), Anthony Rapp (Daryl Coopersmith), Penelope Ann Miller (Brenda), Vincent D'Onofrio (Dawson / Thor), Bradley Whitford (Mike Todwell).

Anthony Rapp, Elisabeth Shue, Keith Coogan e Maia Brewton em "Uma Noite de Aventuras"

"Uma Noite de Aventuras" de Chris Columbus figura como uma das mais prazerosas e divertidas comédias adolescentes dos anos 80, exibida com uma certa constância pela programação da Rede Globo durante os anos 90. O filme de Columbus até que resiste satisfatoriamente bem à passagem do tempo (mais de 33 anos desde seu lançamento), tamanho dinamismo e vivacidade narrativa, fruto de uma trama envolvente, cheia de carisma e de personagens pra lá de cativantes. Ainda que os motivos das inimagináveis enrascadas na qual se mete sem querer a baby-sitter Chris Parker (Elisabeth Shue), juntamente com os engraçados jovens sob sua inquestionável responsabilidade possua lá sua dose improvável e ingênua de ser, o charme irreverente e traquinas de uma aventura adolescente arraigada na realidade pré internet da década de 1980 (sem as facilidades dos smarthphones e aplicativos de transporte) toma de assalto nossa cumplicidade logo de início, pouco importando alguns exageros ingênuos, mas, divertindo e entretendo acima de tudo. As desventuras da carismática e desiludida baby-sitter começa com a desculpa esfarrapada de seu namorado Mike (Bradley Whitford) cancelando o encontro, o que logo em seguida, a faz aceitar passar mais uma noite cuidando da garotinha Sara Anderson (Maia Brewton), faturando assim uns trocados e distraindo-se do inesperado fora na companhia da simpática fã de Thor e do irmão Brad Anderson (Keith Coogan), adolescente encanado com as espinhas e apaixonadíssimo pela bela babá. O que a baby-sitter não contava, era que sua instável amiga Brenda (Penelope Ann Miller) naquela fatídica noite precisaria de sua inestimável ajuda, já que após desentender-se com o pai e a madrasta, a moça foge de casa com o dinheiro para chegar apenas até a rodoviária e sem recursos, prontamente aborta seu plano de fuga, numa atitude impulsiva, própria de adolescente querendo chamar a atenção. Desta forma, Chris Parker, Sarah, Brad e seu inconveniente amigo Daryl Coopersmith (Anthony Rapp) seguem de carro rumo ao centro da cidade (sob o pacto dos pais de Sarah e Brad nada saberem sobre aquilo) no intuito de “resgatarem” a desorientada Brenda, dando início assim as aventuras e experiências mais malucas e arriscadas e de suas vidas. O roteiro de “Uma Noite de Aventuras” carrega um dinamismo narrativo engenhoso e indutivo, conectando um acontecimento ao outro de forma instigante e convincente, explorando um humor que se relaciona na maioria das situações com a condição social e, sobretudo, a faixa etária dos personagens principais (pequenas decepções, desejos e descobertas da puberdade viram peças cômicas). Há o desenvolvimento de dois arcos narrativos que se relacionam, sendo que o principal, focado na aventura de Chris e companhia, são intercalados pelos impasses e dissabores de Brenda na rodoviária, alimentando nossas expectativas em relação ao encontro dessas duas trajetórias (as confusões da garota na rodoviária são repletas de uma comicidade também representada pela inexperiência individual, por julgamentos precipitados e total incapacidade em lidar com o imprevisto). A maioria das interações engraçadas, das piadas ou mesmo do perigo enfrentando pelos protagonistas advém da ingenuidade imatura, da incapacidade de julgar com malícia o que está acontecendo ao redor ou mesmo de uma série de questões que permeia o universo adolescente, como curiosidades e descobertas sexuais pungentes. Sendo assim, as enrascadas na qual o grupo se envolve logo após o carro da Chris ser rebocado com destino à oficina mecânica revelam um comportamento proveniente de certa realidade de “bolha” daqueles jovens materialmente abastados de classe média, porém, um tanto vulneráveis em relação às dinâmicas da vida, como ela realmente é e as dificuldade do mundo adulto, o que por sua vez, acaba lançando-os ao enfrentamento de situações mais críticas que rejeitam uma representação mais realista e séria dos eventos, ressaltando esse aspecto meio "ingênuo" de certos conflitos da obra.

A pequena Sara Anderson (Maia Brewton) encontra seu herói preferido "Thor" (Vincent D'Onofrio)

O filme de Columbus articula, portanto, uma proposta cômica, leve e desprendida, desfilando uma série de personagens extremamente carismáticos e icônicos, que facilmente nos conquistam, suavizando qualquer sombra de ameaça concisa que pudesse pairar sobre a baby-sitter e seus pupilos nas entranhas da cidade hostil. É através do tom propositivo, otimista e aventuresco, sustentado por uma desenvoltura dramática simpática, brincalhona, ousada e impertinente dos personagens (principalmente de Sara e de Daryl) que “Uma Noite de Aventuras” se desenvolve nos deixando a certeza que toda a confusão enfrentada pela garotada só pode, no fim das contas, acabar bem. O elenco do filme é composto pelo talento de algumas figurinhas carimbadas dos anos de 1980. Elisabeth Shue (De Volta Para o Futuro II, 1989, Robert Zemickis) evidentemente mais velha num papel de uma garota de dezessete anos consegue transmitir charme, segurança e maturidade, encarnando muito mais uma figura materna e protetora, assim como Keith Coogan expressa com naturalidade timidez e uma inibição que vai aos poucos sendo superada. O ruivo Anthony Rapp cuja aparência e jeito cômico espontâneo já divertem por si só dá vida ao adolescente inconveniente, debochado e de temperamento promíscuo. Maia Brewton é um espetáculo de carisma, ingenuidade e empolgação interpretando a garotinha fanática pelo Deus do Trovão da Marvel, com seu elmo de asas e o martelo fixado a sua mochilinha do Gremlins (história escrita por Columbus). Penelope Ann Miller chama atenção como a complexada e incompreendida adolescente Brenda que fugiu de casa. Sua irritação, impaciência e imaturidade mesmo abordadas em poucas cenas do filme, garantem boas gargalhadas. Numa encrenca atrás da outra, Chris Parker vai tendo sua responsabilidade, maturidade e comprometimento sendo testados, da mesma forma que Brad Anderson demonstra coragem, atitude, provando principalmente para a garota dos seus sonhos que já não era mais nenhuma criancinha, além do pateta e malicioso do Daryl quase concretizar a experiência sexual que tanto ansiava. Em meio a tudo isto, só resta a pequena Sarah com sua espontaneidade impulsiva, alegria e curiosidade sem noção divertir-se a beça, numa noite inesquecível que lhe proporciona a fantástica surpresa de conhecer Dawson (Vincent D'Onofrio), o responsável pela garagem onde o carro da Chris foi consertado e quem a garotinha acredita ser o Thor (o filme deixa esta dúvida ingênua no ar). O enfrentamento, a superação dos obstáculos e o amadurecimento são temas que estão no subtexto de “Uma Noite de Aventuras”, mesmo que os perigos e vilões pareçam tão inofensivos ao ponto de até mesmo alguns deles simpatizarem com o grupo da baby-sitter (o ladrão de carros ajuda os jovens a escaparem, esbofeteando seu próprio chefe). Chris Columbus já demonstrava aqui a perspicácia em dirigir com sensibilidade atores jovens, extraindo a maior naturalidade possível de olhares, gestos e ações (Esqueceram de Mim, 1990, é prova cabal da habilidade do diretor) com um “time” preciso naquelas cenas que desconcertam os personagens, mas, suscitam o riso. Seu filme tem ritmo envolvente e vitalidade, mantendo-nos sempre interessados na aventura (montagem eficiente e fluída) e muito embora o enredo esteja ambientada num cenário sombrio e noturno, o humor irreverente condiciona uma atmosfera despretensiosa, afastando qualquer influência austera, estimulando nossas expectativas e torcida pelos simpáticos protagonistas. “Uma Noite de Aventuras” parece resistir incólume ao teste do tempo, tanto no que se refere ao seu dinâmico vigor narrativo, quanto em relação ao carisma de seus personagens marcantes, alimentando ainda àquela nostalgia de toda uma geração que cresceu vidrada na programação da saudosa "Sessão da Tarde".


Por: Ábine Fernando Silva

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